Edição 60, Dezembro 2018

Texto por Sara Silva

Não é novidade para ninguém que a PARQ, volta e meia, escreve sobre artistas portugueses. Porém, é a novidade desta edição, falar sobre a ilustradora, escritora, designer, dona de casa, dona de si e mulher de mais uns 7 ou 8 ofícios, de seu nome, CLARA NÃO. Na verdade, sentimos alguma pressão ao redigir este artigo, pois estamos perante uma expert nas palavras e na construção das frases mais aleatórias, mas, ao mesmo tempo, mais fixes e honestas de sempre!

 Em conversa com a PARQ, CLARA , começa por dizer que já quis ser professora de Português e até Pediatra, antes de imaginar, sequer, que a arte de se expressar, de trabalhar e de viver seria, atualmente, o seu caminho. Recordou-nos um episódio muito interessante, em que refere, que sempre fora boa aluna a todas as disciplinas e Físico-Química e Educação Visual eram as suas preferidas. Sabia sempre tudo de cor e nos testes estava sempre preparada, até que num, em particular, sentiu-se “traída” pela dita falta de estudo e no momento, deu-lhe uma branca, achando que não iria correr bem. Muito pelo contrário! Clara, como ela própria disse “sabia que sabia” e de imediato, conseguiu dar resolução ao problema, acabando por ter uma avaliação de 100%.

A artista ressalvou este momento, dada a importância que tem no seu dia- -a-dia, dizendo: “Ainda hoje penso neste teste quando penso na vida em geral. Podemos estudar imenso as opções, ser minuciosamente cautelosos, mas quando sabemos, sabemos, é só ter coragem de afirmar (ou negar)”. E é, dentro desta incrível lucidez, espírito livre e sonhador, que vamos conhecendo e querendo saber mais sobre CLARA . Comanda o seu próprio destino, aplicando a criatividade ao serviço da ideia, inspirando-se nas pessoas e na sua vida pessoal, para, no final, transmitir a mensagem. E é literalmente uma mensagem, a expressar da maneira mais “bruta”, todos os “sentimentos e demandas”. Divide o seu trabalho em duas vertentes, sendo, uma delas, o formato sketch, no qual, utiliza marcadores à mão ou, até, tinta-da-china com pincel, em folhas brancas, para uma ilustração mais rápida e momentânea e o formato de bordado, exigindo outra preparação e mais reflexão sobre a mensagem que pretende abordar. Não hesita em referir, que o seu trabalho lhe dá imenso gozo e a gratificação que sente, é imensa, por saber, que as pessoas se identificam tanto com as suas mensagens e ilustrações.

E melhor do que vermos as palavras de CLARA nas redes sociais, é mesmo encontrá-la em exposições pelo nosso país fora e também no país vizinho. Já expôs em Lisboa no Artroom, em Guimarães na Área 55, na Galiza no Festival da Poesia do Condado em conjunto com a artista portuguesa, MARIANA MALHÃO e até já esteve à conversa como oradora, na Universidade Lusófona do Porto. De momento, a artista esteve inteiramente dedicada ao seu relatório-dissertação de tese, do qual, o tema “relação fabular entre Desenho e Escrita”, partiu de um nobre projeto em que esteve envolvida enquanto organizadora: oficinas de story-telling e ilustração com as crianças hospitalizadas no Hospital São João do Porto. Como podem ver, CLARA NÃO, é uma artista de mão cheia! E para o futuro, promete brindar-nos com mais colaborações, projetos pessoais e exposições. Vamos, certamente, aguardar ansiosamente por mais e, claro, ainda melhor! Ou não seria o trabalho da artista uma referência na arte no nosso país. Tudo tão pessoal e honesto, que se torna impossível não nos revermos nas palavras e no encanto de CLARA .