Carolina Sobral
Epítome do encanto português
Texto por Marta Vieira
Fotografia de Elisabeth Teixeira
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Não foi fácil chegar até Carolina Sobral. No momento desta entrevista, é possível que a designer de 30 anos tivesse umas quatro mensagens nossas todas iguais, entre email, Instagram e WhatsApp. Contudo, quando conseguimos a sua atenção, a empatia é imediata. Duas coisas sobressaem durante estes quarenta minutos de conversa fluída: o seu trato afetuoso e riso adorável, pautado pelo sotaque nortenho de quem nasceu em Oliveira de Azeméis e agora vive na baixa do Porto.
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Está na sua hora de almoço, no trabalho a full time como designer de carteiras para o grupo TIFFOSI. Antes disso, esteve quatro anos na Parfois, em função semelhante. Explica-se logo, “não é por mal mesmo, os meus amigos estão sempre a perguntar se estou viva. Nesta fase, estou com imenso trabalho, entre a empresa e a minha marca, que começa a crescer e a exigir mais de mim”. Questionamos como consegue dar conta do recado, agradecidos pelo seu tempo “tento conciliar tudo, até agora tenho conseguido tudo”, conta alegre.
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Depois fala-nos da aventura que foi o último Portugal Fashion. A marca homónima que representa fez as honras de abertura daquela 51ª edição, num desfile junto ao Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto. “Foi numa quarta-feira às 11h da manhã, um horário complicado. Mas fiquei mesmo surpreendida, foi o desfile em que tive mais pessoas. Eram 150 convidados meus entre família, amigos e clientes, sem contar, com a imprensa, organização, insiders da indústria” revela, acrescentando radiante “tive muito bom feedback do público”.
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Afinal, estava em casa. Ficou conhecida desse mesmo público há algumas temporadas atrás quando participou no Bloom, muito na desportiva. Não ganhou, mas ficou entre os finalistas e ganhou a audácia que precisava para se dedicar à criação da sua marca. A formação em Design de Moda na ESAD e os estágios subsequentes em 2014 com Hugo Costa e Maria Gambina, com certeza sustentaram a decisão.
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A última coleção [nas fotografias], continua, pois, o fio condutor do que tem sido o seu trabalho até aqui: uma estética muito clean, funcional, pautada pela leveza e fluidez de peças oversized como blazers, vestidos longos, túnicas, numa palete de tons de conforto. A brincadeira surge através das volumetrias, de ocasionais apontamentos de cores energéticas ou metalizados e claro, os acessórios para “elevar o look”, como nos explica. O que a mais entusiasma? “Sem dúvida a escolha dos materiais. É o que gosto mais e onde sou mais picuinhas. Procuro qualidade”.
O que nos leva ao tema da sustentabilidade. Mostra-se cautelosa, aqui “é complicado afirmares-te como uma marca sustentável hoje em dia, mas procuro-o através de materiais reciclados, dead stocks ou malhas com base de cânhamo. Mas também através das costureiras que trabalham comigo [o desenho e a modelagem são feitas por Carolina], e claro, coleções ponderadas, com peças de continuidade, por exemplo”. A ideia, segundo a designer é que cada mulher sinta que possui algo exclusivo, uma peça que se repete no máximo dez ou vinte vezes.
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Há algo na sua estética que nos lembra The Row, das irmãs Olsen. Entre risos admite, e quase conseguimos imaginar os eus olhos brilhantes “é curioso que digas isso, adoro o trabalho delas”. Outras referências encontra-as em Céline – a antiga, com acento, como faz questão de firmar – mas também Jil Sander e Bottega Veneta, algumas das suas marcas de eleição.
“O meu ideal era ter uma marca internacional, que ainda não tenho. Vendo para fora, mas é pontualmente. Isso era o que eu gostava mesmo”, confessa já no final deste delicioso telefonema. Falamos mais um pouco, disto e daquilo. De como está complicado para os jovens portugueses, e sobretudo, de como é difícil para si dar o salto entre a estabilidade do agora para incerto que a sua marca pede, no fundo o deseja mais que tudo. Até lá, é vê-la continuar a brilhar na passarela e encantar todos por quanto passa.
texto de Marta Vieira para PARQ_77.pdf (parqmag.com)
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