Texto de Francisco Vaz Fernandes
Os acasos têm dessas coisas. Não fosse a filha de um casal americano de origem indiana ter uma relação amorosa com um português e provavelmente o Bomau e Lisboa estariam muito longe de qualquer plano de Kanan e Vijay Jayachandran. Mas o acaso quis que este casal de arquitetos viesse conhecer os pais do rapaz e as viagens a Portugal acabaram por se suceder e deram tempo para estudar um novo projeto na área da restauração na zona do rato.
Esta mudança que até pode parecer radical, mas foi atenuada, porque traziam a ideia de abrir um espaço que fosse local de partilha e um prolongamento da sua própria casa. Os dois gostavam de cozinhar, e propunham trazer o que já faziam para si, uma alimentação saudável e equilibrada inspirada nas suas tradições asiáticas em fusão com a cozinha do mundo. Receitas vegetarianas ganhavam algum relevo, mas não eram exclusivas. Por isso para Kanan e Vijay a mudança mais radical foi a questão da escala. Passaram de pequena, a uma família alargada. Este espírito de comunidade começa na equipa multicultural, onde todos são co-proprietários e em que cada um colocou um pouco de si desde início do projeto.
Pode-se então dizer que a comida do Bomau é caseira e não é admitido um único produto processado. Todos são feitos por eles e mesmo o molho de ketchup, como gostam de frisar, é um produto fresco realizado pelo equipa. Ou seja, a ênfase no Bomau é a qualidade dos produtos frescos, de onde se procura extrair o máximo de sabor dentro de um quadro de sustentabilidade que traz o desperdício na sua cozinha quase ao nível zero. Uma prática que os obriga, desde já a ser criativos.
Os “burgers” são um dos produtos estrelas do Bomau e podem vir numa tábua de 3,(12 EUR). São de num formato reduzido mas que estão longe de serem mini. É uma opção que surgiu no decorrer da experiência com os clientes que perante opções tão particulares e diferentes acabavam por querer experimentar vários ao mesmo tempo. Pessoalmente fiquei rendido ao “burger” de peixe, o Lemon Grass Fish Slider com espinafres. Na boca, é macio, suculento com uma explosão de sabores ao final. Acompanhado pelo sumo do dia, abacaxi, maça e hortelã consegui-me transportar do Rato para um qualquer destino paradisíaco. Experimentei igualmente, o de cogumelos (Chipotle Mushroom Slider) com repolho branco, cebolas maceradas e coentros , a novidade da estação e ficou igualmente aprovado. Não optei pelo clássico, o de carne de vaca, mas considerei positivo que um espaço que se quer inclusivo não se encerre em ideais extremistas.
Na verdade, a carta da Bomau é bastante plural e foi pensada para satisfazer um cliente a qualquer hora do dia sem se prender a horários e ofertas para almoço. Por exemplo os Poppyseed Cupcakes (2,5 EUR), que são outro dos pontos altos da casa, podem tanto ser servidos como sobremesa, no final de uma refeição, como acompanhados com café ou um cappuccino nas primeiras horas do dia. O mesmo diria sobre os “burgers”; uma unidade (5 EUR), pode acompanhar bem uma cerveja artesanal, a Corvo, ao meio da tarde. E porque não olhar para os starters do carta como um acompanhante de um Gin Sour de Tomilho e Limão (7 EUR). Ao almoço provei os chips de Mandioca (3 EUR) e os veggie Fritters (5 EUR), acompanhados de um molho delicioso que serviam perfeitamente essa função. Ou seja, no centro de Lisboa, com uma explanada rodeada por árvores é um sítio altamente recomendado a qualquer hora do dia.
Texto de Francisco Vaz Fernandes, para PARQ #70 Junho 2021 PARQ_70.pdf (parqmag.com)
Bomau
Rua Alexandre Herculano, 61
Largo do Rato, Lisboa
Fechado aos fim de semana