A Blue Velvet Editorials é uma revista especial, é um passport para uma viagem para tudo aquilo que em tempos era a magia de uma revista. Esta necessidade do tempo das revistas, tem por detrás a determinação de Catarina João Vieira, que apesar de não ser da área media, depressa percebeu que tinha uma grande paixão pela escrita e por revistas. Blue Velvet é pois a expressão do saudosismo do tempo em que as revistas preenchiam o nosso quotidiano. Num certo sentido se é possivel falar em pós-modernismo, Blue Velvet Editorials já é uma pós-revista.
Apesar de pertenceres a uma geração que parece essencialmente virada para as redes sociais procuras captar a atenção dos mais jovens a partir de um projecto de revista? O que te faz acreditar e avançar com a Blue Velvet Editorials?
Acredito que a minha geração é, acima de tudo, curiosa. Ser curioso passa tanto pelo mundo digital como pelo mundo físico. Estamos a crescer em todas as vertentes e toda a gente sabe que o digital é o futuro. No entanto, é necessário continuar a criar experiências únicas tanto digitais como físicas. A minha geração lê, é informada e é nostálgica. Pegar num livro ou numa revista faz parte do quotidiano. Folhear, ver o capítulo que está a seguir. Há uma grande discussão se o “print is dead”. Na minha opinião, nunca estará. As redes sociais são complementos a essa realidade e já fazem parte do universo das revistas e publicações. Deve haver um equilíbrio entre ambos, pois se focarmos em apenas um, não sairemos da bolha online e ficamos completamente vulneráveis apenas ao que vemos na internet.
Quando procuras referências para a tua revista, elas são mais do
universo digital ou mais do universo impresso?
Impresso, sem dúvida. A paginação de uma revista é muito importante para a experiência do leitor. O digital é um complemento porque dá para explorar de outras formas o que o escrito ainda não consegue através de vídeos, imagens. A Vogue Portugal é um exemplo excelente do balanço que criou ao inserir realidade aumentada nas suas publicações. A inteligência artificial vai ser um grande passo para as publicações porque amplificam a mensagem das mesmas. Espero que o bve chegue a esse nível!
Quando começaste o teu projecto tinhas algum modelo em mente? Qual?
O Blue Velvet Editorials (bve) começou há alguns anos. Apesar de ser de economia e gestão, sempre tive muita paixão pela escrita e pelas revistas. Não tinha nenhum modelo em mente porque foi algo muito experimental e honesto. Tinha definido apenas 5 temas, em formato de capítulos. As composições surgiram naturalmente até querer lançar em formato de revista.
Quais eram os 5 temas que tinhas em mente? Eles mantêm-se ou entretanto na tua experiência de 3 edições houve coisas que amadureceram e que mudaram ou que vão mudar?
Tenho um caderno onde fiz uma tabela com os temas que queria explorar. O primeiro foi sobre sonhos perdidos, porque lançar uma revista sempre foi um sonho que tive. No entanto, essa busca pode ser excessiva, obsessiva, o que nos leva a maus hábitos, mote da segunda edição. Esta viagem só é possível porque somos perfeitamente imperfeitos, nas minhas palavras, vitruvianos, mote da terceira edição. E, neste momento, estamos a viver tempos absurdos, tema da quarta edição, e cabe-nos a nós viver livres e sem medo de julgamento.
Aprendi muito ao construir as edições e é sempre uma melhoria contínua. Sou muito exigente com o meu trabalho e comigo mesma. O crescimento vem de uma aprendizagem diária, e do feedback que tenho recebido. É um projeto experimental, mas quero que seja também uma plataforma educacional e de discussão crítica.
Ao teres temas tão fechados, como nascem as colaborações que estão presentes na revista? És tu que determinas as abordagens e procuras o perfil certo para o tema?
Os temas não são fechados. A beleza do bve é que nos deixa explorar as várias perspetivas de cada um, em várias aspetos do mundo e na nossa vida. Exploramos os sonhos perdidos no cinema, moda, literatura, cultura, assim como os maus hábitos, ser vitruviano, etc. Eu quero que os leitores da revista tenham uma visão abrangente do que para nós são estes temas e que gostem de ler, se sintam inspirados. Temos secções fixas como por exemplo moda, intempor(elles), e o AV-club, de cinema.
Sim, sou eu que determino o rumo estratégico da revista sozinha. Mediante o tema, convido pessoas a escrever e a debater ideias, iniciar uma discussão na moda, cinema, literatura. Procuro por pessoas que partilhem da visão do bve, que sejam disruptivos na maneira de pensar, e que não tenham medo de dizer o que pensam.
Sendo um projecto pequeno, imagino que te tenhas que desdobrar em diferentes frentes para que o projecto aconteça. Quais são as partes em que sentes maior prazer e as partes que se tornam mais penosas?
Verdade, é algo que me desafia a nível de gestão e a nível criativo uma vez que estou a “comandar o barco”. Gosto, especialmente, de escrever sobre as semanas de moda e discuti-las com a Ana Brandão, amiga chegada que partilha dos mesmos gostos que eu, ou explorar alguma personagem do cinema porque há sempre um significado por trás de cada um. É aí que eu me sinto mais confiante a escrever porque é “a minha praia”, é algo que consumo muito naturalmente e gosto de refletir sobre. Também gosto muito de paginar em parceria com uma das minhas melhores amigas, Marina Dimitrov, designer da revista. Trabalhamos muito bem em conjunto. Até agora, não tive nenhuma ocasião que considere “penosa”. Diria, talvez, fazer follow-up às marcas para as sessões, ou entrevistas, quando não respondem. No entanto, faz parte e não trocava este papel por nada.
E já tens algum feedback do teu público. Na minha experiência, com o público muitas vezes sou surpreendido por impressões que algumas pessoas tem da Parq que não coincidem em nada com as minhas. Já tiveste essa experiência também?
A bve é muito recente e é normal que as pessoas ainda não conheçam o projeto e ainda não tenham uma imagem definida. Um bom feedback que tenho tido é a nossa presença nas redes sociais e a qualidade e profundidade dos textos escritos (o que eu concordo ahaha). Até agora ainda não tive nenhum feedback que me chocasse mas tenho a certeza que o dia chegará e estaremos aqui para aprender com ele.
Quem quiser pode ter uma cópia impressa da edição. Podes explicar como é que se processa?
Quem quiser a revista basta enviar mensagem para a página do IG (https://www.instagram.com/bluevelveteditorials/) ou preencher o formulário (https://forms.office.com/Pages/ResponsePage.aspx?id=DQSIkWdsW0yxEjajBLZtrQAAAAAAAAAAAAMAAC2JxmhUMjlaR0JLWUMyT1EyODRFQ1FXWENLU0VKVi4u) que está nas redes. Cada edição é impressa no tamanho A5 em papel reciclado com a oferta de um postal, embrulhada com revistas antigas. Enviamos para qualquer parte do mundo!