As batidas frenéticas e as letras densamente pessoais fazem parte da atmosfera musical de “III”, o terceiro trabalho de originais da norte-americana BANKS. “III” surge dois anos após a edição do seu último disco, “The Altar”, que rendeu singles como “Gemini Feed” e “Fuck with Myself”. A artista que, em 2014, cativou o público com o seu álbum de estreia “Goddess”, aposta agora num conjunto de temas marcados por alguns riscos criativos.


É com a sinistra “Till Now” (“You’ve put your words on my mouth ‘til now”) que a cantora-compositora configura o tom de “III”. Segue-se o primeiro single, a intensa e confiante “Gimme”, um hino sobre insatisfação sexual, onde BANKS canta sobre exigir aquilo que merece sem preconceitos. 

As músicas retratam a dualidade da personalidade de Jillian Banks: provocante e vulnerável. Relações tóxicas e destrutivas são muitas vezes a principal inspiração da artista, como a distorcida e pulsante “Stroke” (“You want me to stroke your ego”) e a cativante “Alaska” (“You could put me in your pocket/Wouldn’t you like that?”). Em algumas faixas a voz de BANKS soa manipulada e sem espaço para respirar, como é o caso da confusa “Look What You’re Doing to Me” (com Francis and the Lights). No entanto, a comovente “Contaminated” (“And I wish I could change it and we’re always gonna be contaminated”) e a introspetiva “If We Were Made Of Water” expõem as fragilidades de relações passadas com a versatilidade da voz de Jillian Banks como foco principal.

A dramática e dançável “Propaganda” (“I can’t save myself/Mama, I need help”) e a explosiva “The Fall” são clássicos pop ao estilo daquilo que a artista nos habituou em álbuns anteriores. A última é possivelmente uma crítica à indústria discográfica (“You should be thanking me for giving you what you never afforded”). Em contraste, “Hawaiian Mazes” revela uma BANKS disposta a abraçar novas sonoridades e estilos musicais.

Algumas músicas incluem referências extremamente pessoais, como “Godless”, música escrita em parceira com o seu ex-namorado. Já as acústicas “Sawzal” e “What About Love” – que calmamente fecha o álbum – incorporam samples da voz da sobrinha de 4 anos da cantora.

“III” mostra o amadurecimento de uma artista que conquistou o mundo com a sua marca de pop melancólico e eletrónico misturado com influências R&B, presente em músicas como “Waiting Game” e “Drowning”. Um álbum com o selo de qualidade de uma equipa de produtores como Hudson Mohawke (Kanye West, Frank Ocean), BJ Burton (Bon Iver, Low) e Paul Epworth (Adele, London Grammar). “III” retrata alguém que sabe e consegue obter aquilo que quer. “You can call me that bitch”, como BANKS canta em “Gimme”.

por Miguel Rodrigues