Design Brutalista
No seio familiar, o mundo da arte e o do design de moda faziam parte do quotidiano do jovem Arno Declercq, que desde cedo pensou ter uma carreira na área do design de interiores. Aos 22 anos já tinha a sua própria galeria nos arredores de Bruxelas, onde simultaneamente pôde começar a realizar as suas primeira peças de design. Lentamente, todo o espaço se converteu num atelier, de onde saíam peças que revelavam o seu interesse pela cultura africana, traçando assim um percurso sui generis no seio do design marcado por uma identidade forte. O seu pai é um dos grandes colecionadores e conhecedores de arte africana e o apelo ao reducionismo das formas que podemos encontrar nas suas criações foram na verdade, uma escola, uma vez que desde sempre estiveram nos expositores da sua casa paterna, fazendo parte da sua memória de infância.
A figura do toten e a dimensão sacra está muitas vezes nas formas que encontra para as suas criações que, para além de serem pensadas para uso quotidiano, têm em geral uma dimensão escultural. Elas surgem a partir de elementos circulares ou elementos verticais, procurando atingir uma pureza de formas regulares. O negro que marca grande parte das suas criações funciona como ausência de cor e enfatiza mais a forma e a funcionalidade de cada objeto. O negro é uma referência à cor natural do Iroko, uma madeira considerada sagrada em África e por isso reservada aos trabalhos nobres. Em substituição, Arno Declercq opta por criações em Robles Belga que é escurecido com uma patine para ter uma expressão próxima do Iroko.
Ao trazer para o design a cultura africana, evocando o reducionismo das formas, o seu processo criativo repete em parte a trajetória do modernismo nas artes plásticas no séc. XX, que a partir de um olhar atento a cultura africana se libertou da sua tradição realista da representação, caminhando para algo mais simbólico. Também em Arno todos as formas e funções estão reduzidas ao limite, ou seja por uma essência, que se revela teatral e brutalista
texto de Francisco Vaz Fernandes