BEETLEJUICE BEETLEJUICE

Texto de Lara Mather

Após 36 anos “Beetlejuice” (1988) de Tim Burton, a versão burlesca do filme “The Exorcist” como Tim Burton tão comicamente descreveu outrora, regressa com a sequela “Beetlejuice Beetlejuice” com estreia na 81ª edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza. O filme dos anos 80, a segunda longa-metragem do realizador, depois de “Pee Wee’s Big Adventure” deu que falar na altura pois foi a primeira vez que o público ficou a conhecer a sua estética mais gótica e excêntrica. Desde objetos inanimados que ganham vida, a fantasmas, a sequências de dança involuntárias, todos os elementos que tornaram o primeiro filme numa amálgama de acontecimentos bizarros e aleatoriamente inesperados, regressam na sequela.

No primeiro filme, um casal recentemente morto convoca uma espécie de exorcista dos vivos, Beetlejuice, para se livrar da família que passa a habitar a sua casa. Mas claro, as coisas não correm como esperado e o resultado é uma mistura de momentos que exploram a relação entre a vida e a morte. Desta vez, com um maior foco na família Deetz, reconhecemos que a narrativa é muito própria do estilo que se estabeleceu com o original. O filme não tenta ser muito sério, nem ter grande lógica, mas é isso que o torna tão especial.

Sentimos ao ver “Beetlejuice Beetlejuice” (2024) aquela essência dos filmes dos anos 80 ainda muito presente com efeitos práticos, adereços em que se nota claramente que foram feitos à mão, penteados trágicos, máquinas de fumo, etc. Provavelmente tudo consequência de orçamento apertado dessa época mas que agora se repete com o propósito de conseguir o mesmo efeito visual. Tim diz ter-se inspirado em filmes de terror italianos dublados que costumava ver quando era mais novo. Vemos referências a esses filmes em algumas cenas.

É neste mundo imperfeito que sentimos o coração de Burton na história. A relação mãe e filha entre Winona Ryder e Jenna Ortega é um dos destaques do filme. É interessante ver o sentimento de alienação que frequentemente aparece nas histórias de Burton, especialmente no caso de Lydia, que mantém esse traço de inadequação mesmo na idade adulta e com uma filha. O realizador expressou o desejo de explorar as maneiras pelas quais a personagem Lydia evoluiu nos últimos 36 anos, o que o levou a refletir sobre suas próprias experiências como pai. Essa parece ser a principal motivação por trás da decisão de Burton de embarcar nesta sequela.

O elenco é composto por elementos do filme original como Michael Keaton, Winona Ryder e Catherine O’Hara, aos quais se juntam para esta sequela Justin Theroux, Willem Dafoe e Monica Bellucci.

A direção de arte, extremamente importante neste filme, inspira-se fortemente no expressionismo alemão, estilo muito comum nos filmes de Burton. Há uma distorção de formas nos cenários, particularmente nas cenas pós-morte, situação que o diretor de arte Mark Scruton, também diretor de arte na série “Wednesday”, e o aderecista David Morison descreveram como querendo recriar a sensação no espectador de quando se está numa festa em que se bebeu demasiado. Acertaram em cheio. É Interessante ver os décors novos e comparar com os décors do primeiro filme como o caso do modelo da cidade no sótão da casa da família Deetz ou até mesmo a própria casa no topo do monte de regresso e verificar que não há grandes alterações. Tal como no filme original, o modelo da cidade no sótão tem um papel importante pois as personagens entram literalmente dentro dele . A atenção ao detalhe mantém-se igual e a sequência de planos aproximados do modelo traz-nos uma nostalgia do filme original.

Tim acaba por juntar várias técnicas desde stop motion, a bonecos animatrônicos, efeitos especiais, efeitos práticos, tudo parte do adn deste mundo fantástico e bizarro mas com uma mensagem muito simples sobre relações entre pais e filhos.

Se “Once Upon a Time in Hollywood” foi a carta de amor ao cinema que Tarantino decidiu oferecer ao público então “Beetlejuice Beetlejuice” é sem dúvida isso mesmo para Tim Burton, uma bonita carta de amor ao público que o segue há mais de 36 anos.