Texto por Hugo Pinto

Ao terceiro dia do Nos Alive o destaque é para a música dos anos 90: Blasted Mechanism, Sum 41, Breeders e Pearl Jam atuaram no palco principal com lotação esgotada.

O dia começou com os portugueses Blasted Mechanism. Lembro-me de quando apareceram, em finais dos anos 90, haver muito hype e grandes expectativas de internacionalização dos Blasted, tal nunca se verificou. Desapareceram durante umas décadas e voltaram agora. Fazem o mesmo electro rock, ainda com instrumentos estranhos, alguma eletrónica e muita animação. Sim, estão todos mais velhos mas ainda tocam com alma.

Blasted Mechanism by João Silva / Nos Alive

Ainda de dia, seguem-se as Breeders no palco principal. A banda de Kim Deal (Pixies) e da sua irmã deu um bom concerto. É curioso ver o profissionalismo desta malta mais velha, tocam bem e não deixam escapar nenhum single. “Cannonball” em particular meteu toda uma multidão a cantar em uníssono. Nunca os tinha visto ao vivo e, embora fisicamente se note o passar do tempo, a música continua com muita garra.

Depois de jantar fui ver os Khruangbin na tenda Heineken. Um palco com um cenário de uma fachada com janelas e uma enorme escadaria, um baterista, uma baixista e um guitarrista. Às vezes canta-se, mas pouco. Percebe-se sempre todos os instrumentos e é sempre claro tudo o que está a acontecer.

Foi o melhor concerto da noite, provavelmente de todo o festival.

Este trio de Houston, Texas, faz uma (dream) pop cheia de ritmo, com influência de tudo e mais alguma coisa. Num momento é Soul, depois é Funk, a seguir Disco. Há dedilhados de guitarra a lembrar o melhor Santana e muito Pacific Beach Surf Rock. O baterista e a rara caixa de ritmos cumprem, mas é o baixo que comanda e segura tudo aquilo. Laura Lee, vestida de princesa Disney da cintura para cima e de punk rocker da cintura pra baixo, é uma baixista para a História. Há Paul Simonon e Flea, Sting e Phil Lynott naquelas linhas de baixo. Numa altura em que o barulho e os efeitos fazem o som das bandas, é meio estranho ouvir de modo cristalino um instrumento tão bem tocado.

Laura deixa uma impressão fortíssima em quem a ouviu. Sim, o palco encenado ajuda, do mesmo modo que umas coreografias simples entre Laura e o guitarrista Mark Speer também ajudam, mas isto é um trio e a música perdura como se fosse uma orquestra. Que concerto delicioso.

Obrigado Laura Lee.

Khruangbin by José Fernandes / Nos Alive

Por fim os Pearl Jam. Confesso que nunca foi a minha praia, mas admito tranquilamente a sua relevância e sei da relação especial que têm quer com Portugal, quer com este festival em particular. O “Alive” de Nos Alive vem do seu single com o mesmo nome.

Um público fiel que sabia as letras e cantava, constituído essencialmente por quarentões, alguns já com filhos crescidos, ficou em êxtase logo nos primeiros acordes e manteve-se assim durante todo o concerto. Quase hora e meia depois, Eddie Vedder tenta passar um agradecimento em português, depois arranca sozinho em modo acústico com Imagine de Lennon.

Segue-se uma sequência final com o sempre impressionante “Do the evolution” e o anime do videoclipe. Depois de “Keep on rockin in the free world” de Neil Young, o muito esperado Alive e a última faixa do concerto já no encore foi “Yellow ledbetter”, um presente para os verdadeiros fãs.

Um final marcadamente político de um concerto profissional e competente.

Pearl Jam by Hugo Macedo / Nos Alive

Ainda houve DJ set de Vitalic no Clubbing mas confesso que os três dias de festival deixaram-me exausto portanto… Para o ano há mais.