Entrevista a H. Fortunato autor de Autogenesis
Por Patrícia César Vicente
Numa era em que os podcasts se apilham entre mil plataformas. Numa época em que temos tanto para comentar nas redes sociais, e em podcasts com e sem vídeo.
Temos muito para dizer, está visto! Mas será que temos assim tanto para dar a conhecer? O que é mais importante? A forma de expressão, ou o que temos para expressar? E será que no meio de tanto ruído e burburinho alguém ainda nos ouve?
Na Parq continuamos a querer ouvir toda a gente. Queremos saber o que acontece de novo, e depois é entre nós e quem nos lê. A arte de uns é o dia-a-dia de outros, e vice-versa. Ouvimos agora mais um episódio de Autogenesis, e encontrar o autor foi relativamente fácil. Já o podcast tem uma aura de mistério.
Autogenesis. Começamos pelo nome. Porquê? De onde surgiu a ideia? E mais importante ainda, queremos resposta para tudo e mais alguma coisa.
Tem graça dizeres que o podcast tem uma aura de mistério porque acho que esse mistério é acidental. Não quero esconder grande coisa a não ser o autor mas o título remete para exatamente o contrário… se “genesis” significa criação então autogenesis é uma auto-criação, a ideia um pouco arrogante de que uma pessoa se cria a si mesma. Os textos deste podcast são uma reflexão muito pessoal, baseada nos sentidos e na perceção individual do mundo. E eu acho que quando descobrimos ou redescobrimos algo em nós nos estamos a criar ou recriar, daí o nome.
Quantos episódios é que terá o podcast? Isso foi pensado, ou vais criando à medida que te faz sentido?
Resolvi fazer temporadas com alguma coerência entre si. Cada temporada tem 10 episódios que vão sendo publicados quinzenalmente.
É um podcast realmente curto em comparação com a maioria, o que mais gostamos é que é tudo muito coerente. O som, a cadência, a voz, a imagem, podcast com episódios de muito poucos minutos, como se fossem daqueles shorts que são a urgência dos artistas actualmente.
Só me apercebi de quão curto seria depois de gravar o primeiro! Mas fiquei satisfeito. Tenho ouvido podcasts de uma hora ou mais. São coisas muito interessantes, mas tão longas que por vezes tenho de ouvir de forma intermitente. O que eu queria era que o Autogenesis fosse ouvido de uma só vez. Olha, que fosse um concentrado ou polpa em vez de um sumo. Não quer dizer que seja mais agradável! Mas a ideia foi ter uma reflexão que seja um pouco provocatória seguida de música. A música, que é improvisada por mim num sintetizador modular está lá para dar um ambiente distinto a cada episódio, mas também como catarse depois do texto. Espero que resulte…
Neste caso, o teu podcast foi criado à tua imagem, ou é algo que está colado ao que queres transmitir? Ou nenhuma das duas, todas as hipóteses juntas e mais qualquer coisa que nos está a escapar …
É difícil responder a isto quando eu disse que queria esconder um pouco o autor, não é? É claro que sou eu que ali estou se fui eu que escrevi, li, musiquei e editei. Mas não sou realmente eu. Gosto de pensar que são reflexões que eu também tenho, mas que qualquer outra pessoa poderia ter. Pelo menos isto ajuda-me a acreditar que há alguma universalidade no ali é dito.
Qual é a melhor parte do processo de criação e o que querer dar a conhecer?
Acho que a melhor parte é a escrita, que é pouco curada e pouco editada. A música e a gravação têm repetições e edições, mas a escrita sai quase à primeira. Por vezes fico dias a pensar num conceito ou ideia até começar a escrever, mas quando finalmente o faço há uma espécie de êxtase. Eu sei que não se nota muito no resultado final, mas enfim, é este o processo.
O que é dito no podcast é importante para ti, poderá ser importante também para quem? Tens ideia?
É que não faço mesmo ideia… Tenho esperança que interesse a alguém mas não sei bem a quem. Acho que é como aqueles sinais que enviamos para o espaço à espera que exista vida lá fora. Mas e se eles tiverem um receptor de rádio e não conseguirem enviar sinais de volta? Presume-se que ninguém ouve. Agora que penso nisto, talvez este tópico só por si desse um episódio interessante.
Se amanhã o mundo acabasse, qual era o episódio que salvavas primeiro?
É tão recente que ainda há poucos episódios publicados para salvar. Mas acho que o episódio sobre o som. O som é talvez o sentido mais importante para mim.
Acho que não vai acabar, portanto, ainda temos episódios para ouvir!
Obrigada!
Link para o podcast: https://open.spotify.com/show/3Qay1F3EuPvpv7Jk024yJG?si=5030f58cca7d4a46