texto por Lara Mather

Depois de sucessos como Call me by your name (2017), Suspiria (2018) e Bones and all (2022) estreia agora o filme Challengers de Luca Guadagnino.

Protagonizado por Zendaya, Mike Faist e Josh O’Connor, o novo drama do realizador ítalo-argelino, escrito pelo americano Justin Kuritzkes, conta a história de 3 jovens tenistas e a relação complexa e dinâmica que têm uns com os outros ao longo dos anos.

Patrick e Art são uma dupla, chamam-lhes “Fogo e Gelo”, amigos inseparáveis de longa data, até que um dia conhecem Tashi Duncan, uma jovem tenista, como eles, mas num nível mais avançado, com campeonatos internacionais ganhos e cara de marcas como a Adidas. Ao aproximarem-se, a amizade entre os 3 evolui para um complicado triângulo amoroso que se prolonga durante 13 anos.

Ao longo do filme vemos nos jogadores os seus pontos fortes e fracos, e quando achamos que um deles está a “ganhar” rapidamente o jogo vira.

Os 3 personagens são vilões e heróis em diferentes momentos da história. O jogo não pára, a bola vai trocando de lado da rede, e a sede pela vitória e o desejo pela luxúria cega-os.

O ténis acaba por servir como metáfora para a narrativa, trata-se no final de contas num jogo de poder.

Embora seja sugestivo pelo trailer e pelo enredo, as cenas de intimidade não são explícitas, é subentendido.

Na verdade, Luca Guadagnino faz um excelente trabalho em mostrar o desejo e a inveja que as personagens têm umas pelas outras de diversas formas, umas mais óbvias do que outras.

Este filme retrata perfeitamente um jogo de ténis no seu todo, desde a constante mudança de tempo na narrativa, aos próprios diálogos, às pequenas subtilezas nas ações e até nos movimentos de câmara. A personagem de Tashi no filme diz que jogar ténis é como estar numa relação com outra pessoa, e o espetador sente isso.

Os 3 atores não tinham experiência prévia a jogar ténis porém tiveram 6 semanas de treinos com o ex-jogador Brad Gilbert e de facto no filme acreditamos que têm talento para o desporto mesmo que mascarado pela arte do cinema.

Seria um crime falar do filme sem falar de tudo o que o faz, a narrativa embora seja relativamente simples, é a cinematografia, música, figurinos que o faz destacar-se de muitos outros filmes que vemos hoje em dia.

A cinematografia é espetacular, a maneira como a câmara é colocada em inesperados e diferentes pontos de vista, um deles num plano no filme como ponto de vista da própria bola de ténis em que por uns momentos o espectador vê a imagem acelerada e desfocada enquanto voa de um lado para o outro do campo. Outro plano incrível é o do ponto de vista do campo de ténis, em que num jogo entre Art e Patrick, a câmara é colocada como se o espectador estivesse a observar o jogo do chão, como se estivéssemos por baixo de um vidro, e vemos ambos os personagens a flutuar por cima de nós; Muito conceptual. O trabalho de realização de Luca em junção com a direção de fotografia de Sayombhu Mukdeeprom é brilhante.

Os planos em slow-motion também são muito bem executados, vemos cada gota de suor, cada expressão, cada jogada intensamente.

A banda sonora de Trent Reznor e Atticus Ross combina muito bem com estes movimentos de câmara, a batida rítmica do estilo mais techno e house, torna tudo mais dinâmico, sentimos a adrenalina, síncrona com os batimentos da raquete na bola.

Os figurinos de Jonathan Anderson, diretor criativo da marca Loewe, fazem naturalmente sentir-se a evolução das personagens que vão crescendo e amadurecendo. Tashi é talvez a personagem em que se sente mais isso com a transição de menina para mulher, Art tem sempre looks muito arrumados, muito característico da sua personagem, e em Patrick vêm-se fortes semelhanças a John F. Kennedy Junior, uma inspiração de Jonathan.

Existe uma “pista” digamos bastante subtil para os mais atentos, a t-shirt “I told ya” que Tashi e Patrick usam no filme, indicativo talvez do final.

A marca Loewe entretanto lançou uma coleção cápsula intitulada “I told ya” e Jonathan Anderson irá voltar a trabalhar nos figurinos do próximo filme de Luca Guadagnino que embora ainda esteja em desenvolvimento, já tem nome, “Queer”.