Texto por Francisco Vaz Fernandes

No contexto do espaço de restauração do futuro Uber do Beato surge “A Praça”, que tem como objetivo dinamizar a relação direta entre o consumidor e os produtores locais à escala nacional. Numa consulta ao seu site pode-se ver quem abastece este vasto projeto que se estende por 1700m2 ocupando vários edifícios com várias funções. Nesta antiga messe militar, podemos encontrar uma praça com produtos frescos que vão desde as hortaliças, as frutas, passando pelo pão artesanal, peixe, carne, charutaria e queijos que podem ser ali adquiridos diretamente ou através de um cabaz encomendado online com a possibilidade de ser personalizado. Há cerca de 700 opções “artesanais e orgânicas provenientes de 140 produtores nacionais. Cada um deles trás a sua história porque é, o vínculo do produto nacional e de quem o faz que orienta todo este projeto elaborado por Cláudia Almeida e Silva.

Incrementando essa filosofia da união entre o retalho alimentar e a restauração que dá a hipótese dos clientes provarem os produtos antes de os comprar, surgiu a ideia de criar um “Refeitório”, um restaurante que apresenta uma ementa baseada nos produtos que se podem encontrar na Praça.

O espaço que lhe está reservado é o antigo refeitório dessa messe militar e há algo desse espírito na imagem geral desse restaurante. Não vemos mesas corridas, mas os tampos de mármore estão lá montadas em estruturas simples e robustas de carácter industrial. Domina uma atmosfera funcional sem grande atavios decorativos estando toda a estrutura antiga da sala neutralizada por um cor branca que cobre todas as superfícies. Apenas um conjunto de potes e vasos de barro invertidos a servir de quebra luz dominam os espaço com grande dramatismo visual e a par de uma grande tela de Francisco Vidal, ao fundo, são os únicos elementos decorativos predominantes. É um espaço com um pé-direito tão alto que nos pareceu má ideia para uma noite de chuva torrencial, como a desse dia, mas francamente, instalados, sentimos sempre um grande conforto, esquecendo o mau tempo lá fora.

A carta refere evidentemente essa filosofia de dar a provar, descobrir os sabores nacionais porque essa é a forma de contribuir para a perpetuação da nossa cultura. Tudo isto, numa proposta de cozinha contemporânea baseada na cozinha portuguesa mas que se aventura, por outros mundos, indo beber a muitos lados. Há pratos clássicos mas também sazonais quando se procura uma cozinha fresca com base nos produtos locais.

Para começar fomos tentados por uma entrada vegetariana “Terra Mar” (6,50€) que consistia numa patanisca de alga erva patinha servida por um puré de grão de bico e beterraba. Pedimos ainda uns cogumelos com castanhas (8,50€) que basicamente era um salteado de vário tipo de cogumelos sobre uma cama de castanhas em puré, um clássico do norte sempre agradável de revisitar.

Para continuar, como se pode ler na carta , optamos por um arroz de míscaros (16€) algo que se aproximava de um risotto de cogumelos, bem cremoso e no ponto. Por isso aprovadíssimo. Ainda houve espaço para partilhar uma couve lombarda e rabo de boi(17€) , visualmente o prato mais bem conseguido.

Porque um jantar nunca termina bem sem uma sobremesa, partilhamos ainda um leite creme aromatizado com manjericão (4,50€) que se tornou o momento mais memorável da noite, o que me obriga a voltar muitas mais vezes.

O serviço é bastante descontraído e simpático, o que desculpa qualquer amadorismo de uma equipa que se nota que ainda precisa de alguma eficiência.

A Praça

Hub Criativo do Beato, Travessa do Grilo, 1, Lisboa
Reservas: reservas@pracahub.pt Telf 210 507 569. Seg-Ter 09.00-18.00, Qua-Sex 09.00-23.00, Sáb 10.00-23.00, Dom 10.00-18.00