Uma Boulangerie no Beato
O Bairro do Beato, a poucos metros do rio, tornou-se numa zona privilegiada de Lisboa dada as grandes transformações urbanas que reconverteram uma zona fabril num parque habitacional de luxo. A par vieram bares, restaurantes e galerias de arte e nesta zona já não falta oferta cultural e de lazer para que se torne um destino apelativo.
Argumentos que devem ter pesado quando três amigos franceses decidiram abrir a Lully 1661 no centro do Beato. Trata-se de uma padaria na tradição francesa , ou seja, uma boulangerie, o que não é exatamente o que podemos esperar de uma padaria portuguesa. Além do pão que tem especificidades que o distinguem do português, temos o que chamam a viennoiserie, ou seja produtos de padaria fina no qual podemos incluir os croissants (1,90€) , pain au raisin, pain au chocolat e tb a patesserie, pequenos bolos . Tudo o que encontramos no Lully 1661 é fresco, produzido no momento, de forma artesanal e partir de farinhas bio e outras materiais de alta qualidade e isso marca a diferença.
A Lully que faz referencia a um músico erudito da corte do Luis XIV, durante um período de excelência das artes francesas, não reproduz nada de barroco, como até podíamos supor. Pelo contrário, é um espaço discreto, algo minimal com um o interior marcado por paredes de azulejos brancos e moveis de madeira clara. Tudo obedece a uma ordem funcional e sobre o balcão temos três vitrines para dispor os produtos em exposição. Estão agrupados em categorias diferenciadas. Numa temos a viennoiserie, noutra os pães especiais e por fim na última vitrine, as sanduíches ou a patisserie.
Porque cheguei perto das 15h ainda encontrei as sanduíches expostas que estiveram disponíveis para hora do almoço. Apesar do espaço não ser grande é possível encontrar recantos e em pé, ter uma refeição ligeira no local, juntando um capuccino ou outra tipo de bebida disponível no menu. Ou então, simplesmente pedir para levar. E vale bem a pena.
Referente as sanduíches, das 5 disponíveis nesse dia, podíamos optar por uma com chiken curry, courget, salada e maionesa de acafrão (7,00€) . Outra proposta que me agradou foi a de beterraba com creme camembert e salada (6,00€) a pensar nos vegetarianos. O pão fatiado, é o da casa e isso faz logo diferença à partida.
A pâtisserie que estava a chegar pela mão do mestre pasteleiro, estava prestes a entrar na vitrine substituindo então as sanduiches. Trazia pequenos bolos, o Paris Brest, a Tarte au Citron e mini Pavlovas, ou seja tudo grandes clássicos da pâtisserie francesa com uma apresentação incrível. Apetecia mandar embrulhar um de cada, mas adivinhando os excessos natalícios apostei na Tarte au Citron (4.5€) . A conjugação da massa quebrada com a leveza do chantilly e o creme cítrico, pareceu-me perfeito. Lamentei não ter provado o Paris Brest (5€), em forma de roda de bicicleta à base de massa choux. A sua coroa bem seca assente sobre uma suculenta praline (mousse) de avelãs tinha muito argumentos para ser o doce do dia.
Evidentemente as baguettes não deixam de ser o grande atrativo quando pensamos numa boulangerie. Aqui apresentam uma crosta crocante e uma massa interior elástica, muito perfurada que nunca se revela massuda na boca. Aliás, essa característica só é possivel a partir de processo produção onde as leveduras ganham esse tempo longo para fazer a sua magia. Mas o pão emblema da casa não podia estar mais nos antípodas de uma baguette. O Le Paillard (6€) é um grande fogaça larga de 4.5kg que resulta da mistura de farinhas bio, (branca , semi-integral e centeno, amassado lentamente com fermento de centeio. Passa por uma longa fermentação a temperatura ambiente indo depois para frio num total de 18 horas. Deste processo que se faz de um dia para o outro, resulta um um pão que cresce muito e proporciona uma massa interior homogeneamente perfurada que dá ideia de uma renda, tornando cada fatia de pão em algo fácil e agradável a mastigar, com digestão rápida. As fogaças são realmente grandes, a pensar numa família, para que dure quase uma semana. Não fica duro, dizem no Lully, no dia seguinte está mesmo muito mais saboroso. Evidentemente vende-se às metades e aos quartos a pensar nas famílias pequenas e seres mais solitários.
Toda a confeção está centrada no 12 da Rua do Grilo. Conseguimos até ver os fornos na parte de trás do balcão e é sempre bom presenciar a azafama de um oficio nobre, mas evidentemente é apenas uma pequena parte do processo. O edifício, onde tudo acontece é muito maior, estende-se para ao lado e não é visível ao público. Será contudo, o centro da panificação porque o Lully 1661, em breve vai criar um segundo balcão em Lisboa, na Rua do Forno do Tijolo nos Anjos, para receber os produtos que se confecionam na Rua do Grilo.
Lully 1661
Rua do Grilo, nº12, Lisboa (Beato)