Madonna reafirma a sua coroa e começa dinastia portuguesa em nome próprio

Texto de Bernardo Semblano

Num espetáculo, com uma duração de 2h30, a artista norte-americana proporciona ao seu público música, dança, moda, teatralidade e, até, anedotas.

“Este concerto é a história da minha vida” conta a cantora de 65 anos. E, como não poderia de ser doutra forma, garante que Lisboa é muito importante para a sua história.

A história de Madonna é marcada pela alegria de viver, tristeza, luto, perseverança e erotismo.

Com uma atuação dividida em sete partes, os espetadores são teletransportados desde os seus primeiros dias humildes e repletos de dificuldades, em Nova Iorque, no final dos anos 70, até a um presente marcado pela maternidade, profissionalismo e sucesso.

A setlist contou com êxitos de 14 álbuns diferentes. E, surpreendentemente, covers. Sendo “I Will Survive” de Gloria Gaynor e “Sodade” de Cesária Verde, duas das grandes surpresas da noite.

Sobre as músicas que ficaram por ouvir, “Frozen”, “Give It 2 Me” e “Material Girl” foram alguns exemplos do seu catálogo não incluídos no concerto.

Relativamente às participações especiais, Madonna pode contar com o auxílio dos seus filhos em palco. Estes tocaram e dançaram, individualmente, espalhados por diferentes músicas. E, claramente, a cantora estava grata e derretida por partilhar o palco com os mesmos.

Para além disso, o concerto inicia com a ajuda de Bob The Drag Queen e, mais tarde, num segmento da atuação do seu êxito “Vogue” contou, também, com a presença do modelo espanhol Jon Kortajarena.

Mesmo sendo uma das mulheres mais poderosas do mundo, Madonna não se importa de partilhar, mesmo que não seja fisicamente, o seu palco com outros grandes nomes da música. Muitos deles seus amigos e inspirações. Ariana Grande, Beyoncé, David Bowie, Nicki Minaj, Nina Simone e Tokischa foram alguns dos cameos do concerto.

Para além destes nomes, foram feitos dois tributos muito importantes. O seu palco serviu de memorial para muitos homens perdidos para a SIDA, sendo o segmento fechado com a figura ilustre de Freddie Mercury.

Michael Jackson teve também um tributo muito especial. Com a cantora fora de palco, dois bailarinos vestidos de Michael Jackson e da própria Madonna fizeram um dance cover duma mistura das músicas “Like a Virgin” e “Billie Jean”. Uma forma de manter viva a sua amizade com o artista que, tal como foi projetado no final da atuação, ela não lhe consegue dizer adeus.

Como seria de esperar, não estaríamos perante a “Material Girl” se não houvesse uma grande variedade de roupas e visuais. Almarow, Eyob Yohannes, Jean Paul Gaultier, Versace e Vetements são as marcas que assinam o guarda-roupa da cantora nesta tour. Gaultier, em particular, recria o look icónico do corpete com os peitos pontiagudos. Visual este que remete à “Blond Ambition Tour” de 1990.

No entanto, o maior cameo do espetáculo é a própria Madonna. Ao longo de diferentes músicas, surge um bailarino recriando um visual característico da artista. Tornando as coisas mais meta, Madonna interage consigo mesma, desde abraçar-se até dividir uma cama.

Porém, estes cameos autorreferenciais ganham uma nova dimensão durante o número “Bitch I’m Madonna”, com a participação da ausente Nicki Minaj, onde todos os elementos do grupo de dança desfilam diferentes números de roupas de diferentes épocas marcantes da artista. Sejam estas de videoclipes, atuações ou momentos de passadeira vermelha.

Tal como a própria Madonna referiu no seu discurso de Mulher do Ano para a Billboard, em 2016 e, durante o concerto de ontem (6), “eu acho que a coisa mais controversa que fiz foi deixar-me ficar” e nós, o público, ficamos tão gratos que assim o tenha feito.