Kalorama #3 dia

Texto de Hugo Pinto

O último dia do Kalorama começou com o DJ brasileiro Saint Caboclo que tinha prolongado o seu set para colmatar o atraso de Lil Silva. Tinha alguma curiosidade para ouvir Lil Silva devido ao enorme hype em terras de sua majestade, haverá outras oportunidades. Não havia ainda muita gente mas estava bem cool o som. Bossa Nova com d’n’b em velocidade lenta, algum baile funk, tranquilo.

Selma Uamusse, portuguesa de raiz moçambicana foi a primeira no palco principal. São 4 da tarde e ainda há pouca gente no recinto. A jovem é pequena mas tem uma voz de gigante, não pela amplitude mas pela emoção e ginga que carrega. Som entre o Afro e Lisboa, uma boa banda, boa comunicação com o público e um concerto no mínimo decente. Canimambo Selma.

O galego Sen Senta é o freguês que se segue. Acompanhado por guitarra de fusão, baixo e bateria com samples. Ele canta doce, num galego, inglês e castelhano que agrada qualquer um e faz um sonzinho agradável, cena new soul, com aquela voz meio falsete. Música fácil e bastante adequada ao sol que me assola.

CMAT

CMAT é uma escritora de canções gordinha e simpática de Dublin. Actua com uma t-shirt a dizer “CUNT” e vem com uma banda clássica de baixo, bateria, guitarra e teclas. Faz um folk britânico de voz esganiçada, às vezes meio chorona de amores e que tende para uma pop juvenil com ambição de chegar a global star.

Passa das 18 horas e no palco principal Siouxsie rapidamente deixa cair um casaco preto para sobressair um vestido prateado liso com capuz. Para quem anda cá desde o final dos anos 70, e portanto foi figura de proa no punk e na new wave, envelheceu particularmente bem esta senhora. E os Banshees estão em surpreendente boa forma. É justo aqui fazer uma isenção de responsabilidade: Eu vivi estas músicas na juventude e nunca a tinha visto ao vivo, portanto cantar o seu “Dear Prudence” mesmo lá na frente, mexeu comigo e toldou-me o juízo. Desculpem qualquer coisinha, sim?

Junior Boys

Junior Boys. Maquinaria, bateria e guitarra para aquela batidinha house, cena cool, voz de pop indie a la Hot Chip. É um som porreirinho mas também não sai muito daqui…  E no entanto, há público suficiente para bater o pezinho. 

No palco principal os Foals debitam um indie rock algo velhinho e com tendência para anúncio de telemóvel. Mas são esforçados e há um grupo numeroso de fãs jovens que parece adorar a atitude e a estética.

Tijana T é uma pequena e gira DJ sérvia. No pequeno palco das árvores, tem a oportunidade de usufruir do público que não papa o rock dos Foals. Um set sempre em ambiente Tecno, às vezes algo minimal e obviamente sincopado a 4 por 4. Há sempre malta da música de dança que adora isto.

Os napolitanos Nu Guinea são um duo de produtores que actua com uma banda de 8 elementos que dá corpo ao seu som. Voz feminina e teclados vintage, guitarrinha da fusão com efeitos, baterista e percussionista, Som meio zuca, positivo e agradável, meio playa com palminhas. Aquela onda Tropical, com percussões e beats tem alguma piada, bebe do funk brasileiro e a malta aderiu à festarola e dança.

Noutro palco os The Hives fazem um rock’n’roll musculado. Parece algo velho este rock, soa a algo que já ouvimos. Por outro lado é o que é, cena honesta e sempre com um público fiel.

Win Butler dos Arcade Fire

Já depois de jantar os Arcade Fire partem a loiça toda no palco principal. Muito batidos nisto e sempre a passar por Portugal, conduzem um rol imenso de singles que toda a gente sabe de cor. Lá vão metendo uma ou outra música do novo álbum mas são os temas mais antigos que cativam a malta.

E depois há Win Butler, que está mais gordinho mas continua com aquela energia contagiante. Um verdadeiro artista que, ao segundo tema já está em stage diving com surf crowd. Respect!

Every time you close your eyes…Reflector… Can we work it out?! Sure Will, a malta gosta, manda vir! E agora “The Suburbs (Continued)” para o Bowie, que segundo Butler ficará feliz, onde quer que esteja, cada vez que uns weirdos se sentem felizes. Terminam com Everything now e Wake Up. Os Arcade dão sempre um ótimo concerto. Toda a gente canta e no fim toda a gente agradece.

Young Fathers

E para terminar este festival, os Young Fathers deram um grande show. São um trio de vocalistas e produtores, cada um com uma voz bastante particular e que ao vivo ainda se acrescenta uma voz feminina, um baterista que atua de pé e um guitarrista nas teclas. Estes já vencedores de um Mercury Prize mereciam um outro palco e um horário melhor.

Têm um som estranho e difícil de definir… Tanto bebem de Suicide como de Enya, fazem soul num tema e um quasi-rock noutro, animam qualquer público e vão a todas. Fiquei com muita vontade de os voltar a ver e o último álbum, “Heavy, heavy” é um dos grandes discos de 2023. 

Para o ano há mais, confidenciaram-me que já mais perto do rio.

Siouxsie