KALORAMA DIA 2 -sumo
Os Capitão Fausto abriram o festival a meio da tarde mas ainda assim tiveram muita gente a assistir. Diz que o concerto foi bom, eu achei morno, mas isto não é o meu som.
James Holden, que tem um dos grandes discos deste ano, tocou com um freak nas tablas e outro num sax tenor e flauta, este último com uma t-shirt branca com “Isabelle Hupert” a negro. Gosto deste som de maquinaria e percussões com um sax ocasional, fica meio ambiental e o público, algo hipster, parece ter aderido.
Belle and Sebastian, uns escoceses dos anos 90 que já não têm idade para estas coisas, bem tentam tocar como há 30 anos mas…. tenho algumas dúvidas que o façam. Desfilam os seus singles indie para uma assistência que ainda não era nascida quando os lançaram e meia dúzia de maduros saudosistas.
FKJ, (French Kiwi Music), começa com um sample de um piano live e eu já estou rendido. Sozinho em palco mas rodeado de teclados, drum-machines e uma extensa panóplia de instrumentos acústicos, este francês orienta-se muito bem. Em 5 minutos já cantou, tocou piano e guitarra, lançou samples e dá-lhe num sax. A espaços lembra o velhinho Stevie mas também Dam-Funk. Sai uma remix live do Marvin Gaye, ele sola num pianinho, o público reage bem…. e a coisa prolonga-se. You can’t go wrong with Marvin.
A Florence é uma diva no concerto que teve mais público. Indie qb, mais pop diria eu. A senhora comanda bem num palco onde está sozinha ao meio e a extensa banda se encontra na obscuridade das laterais. Tem uma impressionante legião de fãs ruidosos e rendidos.
Num momento está abraçada a um membro do público enquanto canta…. e logo a seguir convida a amiga Ethel Cain para um dueto meloso. É toda cénica ela, isso tem piada por si, não desculpa mas alivia. Grande concerto, toda a gente leva daqui maravilhas.
Ocorre-me que é impossível gostar disto e de Aphex Twin e que esta gente vai ter graves problemas de digestão durante o Aphex :))
Arca deu o espectáculo hardcore sexual que só escandalizou a quem nunca assistiu. Gender fluid, às vezes quase porno, vai de brinquedos sexuais a apetrechos BDSM. E a música? Aquela dance music, ás vezes durinha, batidinha latinx, coisa catalã e muita eletrónica contemporânea. Gostei.
Baxter Dury é o filho de Ian Dury dos Blockheads dos anos 70/80. Dono de uma voz rouca e atitude blasé num clássico quarteto de glam rock que bebe dos anos 80 com aquela batida OMD. Deram um bom concerto. Tem álbum novo mas aconselho o belo disco de 2020, “The night chancers”.
Aphex Twin, que dá sempre um espectáculo visual brutal e inesquecível, começa calminho mas rapidamente avacalha, arrisca e assume o seu som experimental e aparentemente caótico. Ao longo da noite, por breves segundos, é possível ouvir todos os géneros da música eletrónica mas este set é muito um “Pós-Drum’n’Bass”. Sempre com atitude experimental e aqueles beats que arranham . Já era de saber que isto não é pra dançar, é pra ouvir… Às vezes dança-se mas é só às vezes. “Glitch” é A palavra que define melhor Aphex.
No final do concerto apercebo-me que já não há assim tanta gente a assistir.
Eu sou um tipo cansado mas feliz.