De Israel para Lisboa
O amor é a primeira palavra que nos vem à cabeça quando começamos a falar de Itamar Eliyahu e Elad Budenshtiin, um casal de israelitas que fundou o restaurante Tantura em pleno Bairro Alto
Tal como Ulisses, que encontrou nesta foz do Tejo, o sonho de se estabelecer, fundando aqui a sua cidade, também estes dois viajantes em lua de mel, viram nesta Lisboa a possibilidade de se fixarem e criarem um projeto conjunto. O motor, não foi só o amor que partilham entre si, mas também o amor implícito no querem partilhar com os demais, tudo aquilo que os alimentou desde a sua infância em Israel.
Esse entusiasmo de dar a conhecer, é o que sentimos quando se entra no Tantura e somos recebidos pelo contagiante Elad, o Chef da casa, responsável por uma carta que é o somatório do melhor que experienciou na sua terra natal. Tudo no Tantura parece existir por acumulado, tanto na cozinha como na decoração do espaço, ecos de outros lugares, de outras experiências vividas que encontraram na rua da Trombeta um espaço próprio traduzindo-se no conjunto numa exuberância tanto gustativa como visual. Tudo está em contraste, nada é uniforme, permite-se a liberdade e o sonho. Olho para o meu prato, antigo é certo, mas ímpar dos demais que compõem a minha mesa de quatro e consigo viajar, imaginando a sua historia particular que o trouxe até ali.
De resto, no Tantura, os 7 anos de existência tornam que tudo seja fluído, com graça e justifique o seu sucesso, que apesar das limitações de um período de venda ao postigo não impediu o negócio de expandir-se para a loja ao lado, duplicando o seu espaço, quando a oportunidade surgiu.
Como se sabe, a cozinha israelita advém de um cruzamento de tradições do Médio Oriente, com culturas do mediterrâneo que se misturam com costumes introduzidos por aqueles que vieram da diáspora judaica no Leste da Europa. Mas em geral tem muito em comum com a cozinha dos países vizinhos onde os elementos vegetais são predominantes e a proteína animal é mais um complemento. Por isso, o Tantura é um restaurante adequado a quem é vegetariano e para todos aqueles que preferem uma cozinha moderna, mais adaptada as necessidades quotidianas de uma população cada vez mais urbana.
O “hummus”, com era de esperar, é um dos pratos base. Na carta do restaurante, esse creme de grão de bico pode ser servido simples (6,25 € ) ou em versões mais complexas, com alguns complementos que em geral são colocados ao centro e que por si, já são uma refeição. Temos hummus com shakashuka, o muito tradicional ovo escalfado em molho de tomate (7,85 €). Hummus com beringela frita e ovo cozido, ou pimentos assados, ou couve flor fumada, para além de carne picada são outras possibilidades. Algumas das propostas são tradicionais e outras procuram refletir uma cozinha de fusão. Comecei pela versão mais simples que vinha com um cheiroso topping de ervas, onde salsa e cebolinha são envolvidos em azeite e romã. Tendo ao lado, um quarto de limão para temperar a gosto, a minha porção estava cremosa, como se esperava e, no essencial, refletia a frescura e a qualidade dos produtos envolvidos.
Depois experimentei um outro grande clássico da comida israelita, o “falafel”, que consiste em bolas à base de grão de bico e salsa que passam por uma fritura. No Tantura são fritas ao momento, servidas em dose de 8 unidades (2,90 € ) ao lado de um molho à base de iogurte. Segundo Elad, seguem a receita da avô e são orgulho da casa. Desafia quem encontre melhores. As “falafel” podem também ser servidas como recheio numa “pita”, um tipo de pão chato, ao lado de uma salada e um molho a base de iogurte e menta que torna o conjunto mais suculento e fresco no palato. É um best-seller para quem pede serviço de “takeway” no Tantura
Para além dos grandes clássicos, existem ainda no Tantura vários pratos grelhados, à base de aves ou carne de borrego que aparecem geralmente como sugestão do Chef e funcionam como um complemento da carta geral. São carnes que nos são familiares mas que ganham outro exotismo pelas salmouras que tem por base condimentos típicos do médio Oriente. Serviram-me umas espetadas de carne de galinha combinaram perfeitamente com uma salda de legumes grelhados. Aliás, propostas de saladas não faltam. Há vários tipos de saladas elaboradas e enriquecidas com frutos secos que tanto podem servir de acompanhamento como de um prato em si.
Com música eclética, o Tantura é um restaurante casual, sobejamente conhecido, sendo então recomendado que seja reservado para ter a certeza que consegue mesa à hora desejada. A casa está sempre cheia e o espírito de partilha de pratos favorece a formação de grupos. Qualquer contratempo na hora de chegada também é resolvido de forma descontraída num balcão que se encontra mesmo à entrada com uma carta de cocktails com e sem álcool. Nesse caso, pense em Ulisses, deixe o sonho deambular, porque já está em Lisboa, no seu porto seguro.
Tantura
Rua do Trombeta 1D, Bairro Alto, Lisboa
Telf
De terça-feira a domingo, 18h00 – 00h00
Brunch
Sábado e Domingo, 12h00 – 15h30