A área da moda parecia ser o destino de Tara Van Ginkel, que durante 5 anos foi o braço direito da mãe, Lidiia Kolovrat, designer de moda radicada em Portugal. Além da concepção da coleção, tudo o que uma marca de moda necessita em termos de promoção, estava entregue à Tara que se sentia um peixe dentro de água. Talvez porque o aquário se tornava pequeno ou porque seguia o espírito empreendedor da mãe, Tara queria ter um negócio próprio. Criou durante a pandemia a Lender Community, uma plataforma onde consumidores de moda trocam entre si as suas peças de vestuário que tinham posto de lado. Não correu à velocidade que desejava e procurou algo mais imediato com um retorno rápido e criou a Fry me to the moon. Foi tudo pensado a correr seguindo o coração, com os poucos recursos que tinha a mão, para apanhar a época dos festivais de 2022. Sem estrutura montada, nem mesmo um truck food, conseguiu ser aceite no Sonar, em Lisboa, apenas com um do conceito bem elaborado . Foi o que se pode dizer um batismo de fogo. Ter trabalhado até às 6 horas da manha em algo que apenas estava a experimentar, foi uma loucura, confessa . Hoje consegue despachar meia tonelada de batatas num dia , sem stress, como aconteceu no último Primavera Sound.
Tara viveu grande parte da sua adolescência na Holanda com a família do pai e as suas “Fries” são a reprodução de uma verdadeira instituição nos Países-Baixos. Não há bairro que não tenha o seu quiosque com batatas fritas que tem que ser cremosas por dentro e estaladiças por fora. Não há segredos. Tara refere que o que faz a diferença é fritar as batatas duas vezes. Uma a baixa pressão que deixa a batata mole . Depois de repousar, frita a batata uma segunda vez a alta pressão, o que lhe dá crocância sem perder o lado cremoso do interior. Como diz é um processo que é feito todo a mão desde o corte inicial. Tudo com produtos de primeira qualidade, o que faz diferença ao final.
A cozinha não era um universo que estivesse muito longe do seu imaginário. Quando terminou o liceu tinha manifestado o desejo de uma carreira de chef cozinha e procurou uma escola em Barcelona, mas a experiência num restaurante, reverteu o seu sonho. Diz que adora o que está a fazer agora. Não é chef mas é uma área onde também consegue ser muito criativa. A qualidade e técnica estão lá na base, mas depois há tanta coisa para inventar, a começar pelos molhos, alguns mais leves para eventos pop up outros mais elaborados, com base em refugados de carne, por exemplo, a pensar nos festivais onde se prefere algo que possa ser uma refeição mais completa. Versões vegan, de molhos com base em abacate ou cogumelos, também foram pensados.
Para acompanhar proporciona umas bebidas engarrafas em frascos de vidro feitas no dia. Iniciou por engarrafar com margaritas, a sua bebida favorita porque achava que casava perfeitamente com as suas “fries”. Agora tem mais opções, pina coladas, mescalitos e diferentes sabores para as margaritas. Nos comestíveis juntou ainda croquetes. Primeiro de carne numa versão holandesa mas hoje também faz de camarão e de cogumelos para os vegan.
Já conheço a Tara há muitos anos mas foi uma surpresa encontra-la num evento atrás de um balcão onde pude experimentar as suas famosas “fries” dentro de um cartucho de papel. Sem dúvida crocantes, pinceladas numa maionese picante que foi a minha escolha. Os croquetes de cogumelos foram mais surpreendentes e acompanharam uma das suas margaritas de maracujá. Todo o packaging é perfeito e por isso almejar a lua é bem possivel para este jovem projeto.
texto de Francisco Vaz Fernandes para PARQ_77.pdf (parqmag.com)