A luta por um mundo mais igual

texto por Tatá Seixo Garrucho

fotografia por João Rosa

Durante o MUPA, festival de música na plánice, de Beja, a PARQ teve a oportunidade de conhecer melhor dois membros do JOKKOO COLLECTIVE: Mobdj e Baba Sy. Fruto da urgência de divulgar música eletrónica avant-gard e da diáspora africana, Jokkoo foi criado em 2017 e está sediado em Barcelona. Baba Sy, logo no início da conversa, explica-nos que Jokkoo é uma palavra em Wolof, língua falada na África Ocidental, nomeadamente no Senegal, de onde o artista é originário, cujo significado é conexão, entendimento. Este coletivo, composto exclusivamente por artistas negres, é responsável por variadas curadorias de festas e festivais, têm também programas e tocam em várias estações de rádio, produzem música e um dos belíssimos exemplos disso é a “Jokkoo Mixtape”, lançada em novembro de 2020. Possuem um estúdio e além destes dois DJs, também fazem parte Ikram Bouloum, Mooquie, B4mba e Opoku.

Maguette Dieng assina como Mbodj os seus trabalhos enquanto DJ, produtora e selector. Já passou por grandes festivais como o Sónar (Barcelona), o Primavera Sound (Barcelona, Laut), Boiler Room Festival (Barcelona), Nyege Nyege (Uganda), entre muitos outros, assim como já pisou várias casas de renome da capital da Catalunha, como a Sala Apolo e o clube Razzmatazz. “Hoje em dia, toda a gente conhece e ouve música africana, mas no que toca a música mais underground, não é tão conhecida. Então o nosso foco é na música da diáspora.”. As frequências baixas que tocava atraíam para junto do PA o tímido público do MUPA, tal como as sereias atraíam os barcos para rochedos que os naufragavam. Mas, neste caso, em vez da perdição, o público obteve a sua salvação. Como canta Réjane Magloire: “Last Night a DJ Saved My life”, e Mbodj tem cumprido a sua missão. No seu set ouvimos variados géneros musicais, como Trap, Bass, Dub e gqom.

Tem sido bastante vocal, dando ênfase às suas intenções políticas na indústria musical, como podemos verificar nas alegações que faz ao Primavera Sound: “My fantasy is to decolonize the ears, but also to colonize the public spaces… So I would love to see people out of the institutions to have the power to create music experiencies in places where they could not easily have access because of their political validation”. Para a artista, a existência de coletivos exclusivos de pessoas negras é bastante importante, pois a presença de artistas afrodescendentes na organização de eventos ou nos palcos acaba por atrair pessoas das mesmas identidades, criando assim uma comunidade una que combata a desigualdade.

“A missão da Jokkoo é para África. As pessoas latinas têm a vibe, têm conexão com África, tocam música africana, criam novas sonoridades como Baile Funk, nós trabalhamos com toda esta música. Não tocamos techno de Berlim, por exemplo, porque não é a nossa luta. A luta de Jokkoo é música não europeia, porque as pessoas europeias têm agências, plataformas, tecnologias e estruturas, as pessoas africanas e latinas que fazem isto não têm. E a energia da Jokkoo é essa mesmo, de criar boa vibe, boa música, sem impor género” conta-nos Baba Sy. O DJ e produtor fechou a noite, continuado no mesmo registo, porém mais DOOM e com BPMs mais acelerados, chegando a passar pelo techno e o industrial. Uma das faixas que tocou foi “Souls of Miratejo” do produtor e DJ da Margem Sul DJ Doraemon, publicada pela já extinta CusCus Discus. No final, ficamos com água na boca por mais atuações de Jokkoo nos palcos portugueses.

texto de Tatá Seixo Garrucho para PARQ_77.pdf (parqmag.com)