after hours
texto de Adriana Veríssimo Silva
fotografia de Elisabeth Teixeira
Pedro Pedro: o retorno à moda
Pedro Pedro iniciou o seu percurso profissional em 1996 e, nesse mesmo ano, venceu o concurso “New Expo-Wear Designers”, criando a sua marca em 1998 e a partir desse ano apresentando várias coleções no Portugal Fashion.
Depois de um período de três anos parado, retoma às passarelas com a mais recente coleção de FW22/23.
Sei que deixaste a moda por uns anos, conta-me um pouco sobre o começo do teu percurso no mundo da moda, o antes desse período. Onde começaste, quando criaste a tua própria marca, …?
(Pedro) Eu fui parar ao curso de moda um pouco por sorte ou porque calhou. Na altura fazia cursos de pintura livre, sempre gostei de desenhar e pintar desde jovem, e quando cheguei ao secundário, a minha mãe sugeriu-me fazer o curso de moda, e eu fui um pouco na descoberta. Entrei e comecei por fazer o curso no Citex, aprendi imenso, depois passei para a academia de moda, já com bastante bagagem e devido a isso comecei a trabalhar com dois professores, depois das aulas. Entretanto, eu conheci muitas pessoas no Citex, em que uma delas foi o meu colega com quem iniciei a marca, colaboramos juntos durante dois anos e decidi continuar eu sozinho e a partir daí fiz sempre moda. Parei à quase três anos, antes da pandemia, continuando no mundo da moda mas mais no setor da indústria.
De onde surgiu a ideia de voltar a desenhar moda e porquê agora?
(Pedro) Porque percebi nestes anos que estive na indústria que não era o percurso que eu queria fazer. A industria tem muitos outros pesos, muitos outros obstáculos, que uma marca de moda também tem mas que noutro sentido, e não há tantos impedimentos para a criatividade. Na industria tens que seguir o que a marca quer e eu como designer individual tenho que contar a história que eu quero, tenho objetivos diferentes e percebi que eu prefiro seguir o meu caminho, ter a minha identidade.
Como funciona o teu processo criativo, desde a etapa de pesquisas ao conceito e escolha dos modelos para runway?
(Pedro) E se eu te disser que já tenho a coleção de verão toda desenhada? Sabes porquê? Começo com um desenho e a partir daí misturo tudo, realizando tudo à mão. E faço uns quarenta croquis todos pintados, a partir daí vou seleciona
os tecidos e daí vejo o que mantenho ou adapto, porque o tecido pode mudar completamente a ideia original. E este processo é às vezes 3/ 4 vezes feito, até se limpar e adequar tudo. Nestas adaptações todas à ideias novas que aparecem e outras que morrem. É muito orgânico, e muito trabalhoso, mas é a parte que eu mais gosto. Ultimamente a minha maior inspiração é a música, as sub-culturas musicais. A última história (F/W 22/23) tinha a ver com os ravers mas visto com um olhar rural inglês e um pouco freak. Nesta de verão, brinca-se na mesma com música, especialmente os musicais de verão. Sendo transmitido uma ideia mais leve, mais livre, de música partilhada em conjunto por várias pessoas ao mesmo tempo. Mas sim, ultimamente tem sido principalmente as sub-culturas musicais que me têm inspirado.
Quais foram as maiores dificuldades que tiveste no decorrer da tua carreira?
(Pedro) Encontrar pontos de venda, chegar a mais pessoas e vender o produto. Essa é a parte mais difícil, que eu mais odeio mas é sem duvida a parte mais importante porque tens que vender para conseguir crescer, melhorar e desenvolver coisas novas.
Qual é o teu posicionamento sobre o consumo fast-fashion de moda no mercado atual?
(Pedro) Pergunta difícil… Eu voluntariamente, acho que há coisas que ultrapassam os limites, não querendo referir marcas, há produtos que eu vejo há venda que não entendo porque é que aqueles produtos estão há venda. Como conseguimos aquele preço tão baixo? Não consigo perceber… E depois o consumidor continua a comprar, mesmo na pandemia via filas intermináveis nesse tipo de lojas. Acho que no fim da cadeia de produção da peça há alguém que está a ser muito explorado, para se conseguir valores tão baixos. Acho que no futuro, com a nova geração, vai existir mais supervisão até do próprio consumidor, em ver onde as peças são feitas, por quem, onde? Esse posicionamento de questionar e não aceitar tudo o que nos vendem vai ajudar muito a industria da moda. No meu caso, nós somos quase como uma familia, já nos conhecemos todos há anos, porque continuo a trabalhar com as mesmas pessoas que conheci no inicio, e isso faz com que a marca seja extremamente transparente.
Como vês o futuro da moda em Portugal?
(Pedro) Uma das coisas que me fez voltar também este ano, foi perceber que esta nova geração é muito interessante, muito ativistas, dada a causas, pensam muito por eles próprios e têm opiniões fortes. Está a acontecer muita coisa… tanto boa como má, como por exemplo nos E.U.A. com a questão do aborto e etc. Mas depois tens o oposto, onde há pessoas que dizem que é tudo igual, tens sempre esperança. E em termos de moda, a moda é sempre uma manifestação da sociedade, só tem que crescer e acompanhar a evolução da sociedade, tornando-se marcante no processo.
Tens alguma história ou episódio marcante que gostasses de me contar sobre o mundo da moda ou o teu percurso nela?
(Pedro) Conheci a Susie Menkes, no meu desfile em Itália, ela veio ter comigo e disse que gostou muito, foi extremamente simpática.
Que dicas darias para quem está a começar ou deseja entrar na área da moda?
(Pedro) Persistência principalmente, e singularidade. Tens que pensar o que tu és diferente dos outros e valorizar isso. As nossas pequenas coisas diferentes dos outros são o que temos que enaltecer.
Quais são os teus planos para o futuro?
(Pedro) Ter possibilidade de continuar com a marca, construir melhor o site e posicionamento desta. Estamos a tentar colocar a marca em lojas conceituadas, esperamos conseguir.
Podem ver esta nova coleção no instagram pessoal do designer ou no site do Portugal Fashion.
texto de Adriana Veríssimo Silva e fotografia de Elisabeth Teixeira para PARQ_75.pdf (parqmag.com)