Texto por Rafael Vieira

António Saint Silvestre iniciou com Richard Treger a Colecção Treger/Saint Silvestre na década de 80, que integra mais de 1700 obras de arte bruta, singular, outsider art e suas variantes. Isto é, produção artística de criadores autodidactas, alguns com patologias mentais, fora dos preceitos de estilo ou escolas. A colecção está em depósito do Centro de Arte Oliva (CAO), um vasto complexo fabril desactivado e renascido para a arte, que conta também com a colecção de arte contemporânea Norlinda e José Lima.

vista geral de coleção em exposição

Trabalham com galerias do mundo inteiro, assim como com coleccionadores que também adquirem as obras e contam com doações de «coleccionadores ou de famílias de artistas que querem pôr a salvo as obras que possuem. Temos convites de museus para expor obras da colecção». Aliás, têm neste momento 150 obras em exibição no Museu Gugging de Viena, um dos mais importantes centros de Arte Bruta no mundo. A rotatividade de exposições é constante, assim como a circulação de obras para outros museus e galerias. No entanto, como diz António, «nem sempre é possível aceitar todos os pedidos, pois as obras de Arte Bruta são frágeis e necessitam de uma rigorosa manutenção por especialistas». Têm um projecto com o Museu Soares dos Reis para o Outono, para além do programa anual de exposições no Centro de Arte Oliva.

A.C.M.  (França, 1951)

Esta colecção é a única em Portugal. António clarifica: «Mesmo no sul da Europa, num país como Itália, fértil no campo da “Arte Bruta” através de inúmeros e famosos artistas “brutos”, não tem uma exposição permanente; nem Espanha, onde o Museu Reina Sofia e La Casa Encendida apresentam regularmente exposições de Arte Bruta». A originalidade da colecção torna-a ainda mais apetecível, ao visitante, mas também às instituições. António conclui: «Nós temos a intenção de deixar esta colecção em Portugal, pois será um trunfo cultural para este país, mas para conservar e fazer “vivre” duas mil peças desta colecção em permanente crescimento, é necessário uma estrutura sólida e com meios suficientes. Em Portugal, contrariamente ao resto do mundo, a Arte Bruta, a última aventura artística do século XXI, ainda é pouco conhecida, porventura propositadamente ignorada. Dezenas de colecções privadas dormem em armazéns à espera de uma casa. Nós tivemos a sorte de encontrar uma em São João da Madeira».

Centro de Arte Oliva Rua da Fundição, 3700-119 São João da Madeira

https://centrodearteoliva.pt

www.tregersaintsilvestre.com

Mary T. Smith  (Estados Unidos da América, 1904 – 1995) sem título, 1987

Texto de Rafael Vieira para PARQ_74.pdf (parqmag.com)