Um criador compulsivo
Com alguns prémios internacionais e referências em publicações de design prestigiadas, André Teoman (1989) é mais um caso de um designer português a ganhar destaque na esfera internacional. Nascido em Viana do Castelo, mas com raízes turcas, lançou-se desde 2015 num projeto pessoal com propostas díspares, em geral alicerçadas na inovação e irreverência, doseadas de um saber fazer artesanal pátrio que, bem conduzido, pode fazer a diferença num mercado global. Propõe-se criar peças de grande impacto que se distinguem pela sua forte raiz identitária e por um calor humano que muitas vezes escasseiam em projetos de design mais massificado. Entre os seus projetos podemos destacar a Zoo Collection composto por vasos modulares em cerâmica e vidro que agrupados na vertical compõem o corpo de pequenos animais fantásticos. Já em Tesouros de Barro, o artista emerge no universo da olaria portuguesa e cria uma série de utensílios, alguns com piercings que tanto nos remetem para silhuetas jovens urbanos contemporâneos ou para formas de arte pré-colombiana com um toque galináceo. Em geral a fonte das suas referências são múltiplas, cruzam culturas, épocas e saberes. A Parq entrevistou André Teoman que nos deixou uma visão geral do seu trabalho, do design nacional e das perspetivas de crescimento do made in Portugal.
Refere que nasceu no seio de uma família que tinha interesses culturais que o instigaram desde jovem a ver e a participar em atividades que o meio artístico à sua volta lhe oferecia. Por isso desenvolver uma carreira criativa impunha-se com alguma naturalidade, independentemente de em certas alturas ter parecido mais orientado para o lado musical, outras vezes para as artes visuais. Optou por se formar numa escola de artes visuais na cidade natal e nessa altura a sua entrega e paixão pelos processos criativos já faziam com que fosse sempre o último a abandonar o atelier, para não dizer literalmente empurrado para fora. Era um período em que vivia tudo muito intensamente e quando saía do atelier mergulhava nas artes do teatro, nomeadamente no das marionetas, uma segunda paixão que, num olhar atento, continua a estar presente nos seus processos criativos. Algumas das suas criações hoje aclamadas prendem-se ainda a estes primeiros passos no mundo das artes ultrapassando muito a questão do objeto utilitário. André Teoman coloca-as num trânsito que vai do design à arte e as suas criações trazem sempre uma narrativa, fazem parte de histórias e mostram-se com um certo sentido cénico que dão uma razão de ser.
Grande parte das peças que cria são únicas ou pertencem a serie limitadas, necessariamente dirigidas ao colecionismo. Esta relação com o mercado mais exclusivo e elitista acaba por ser uma continuação da experiência que teve em empresas de design portuguesas como a Boca do Lobo e Koket, onde deu os seus primeiros passos e desenvolveu peças como a Newton, Piccadilly ou o Hypnotic que se tornaram peças icónicas que hoje moldam positivamente a imagem do design nacional lá fora. Quando o interrogamos sobre este lado mais positivo em notoriedade e quantidade do que se está a produzir em Portugal, confessa que se podia ir mais longe se o sector soubesse criar um plano nacional, como o calçado soube criar. Sabe do que está a falar, porque não obstante do seu portfolio resultar de uma pequena seleção daquilo que cria, no fundo uma imagem daquilo que quer passar enquanto designer, há muitas outras coisas que desenvolveu, nomeadamente para a indústria, onde soube sempre ter um pé. Pedidos de colaboração não faltam, porque a “indústria tem visto no design uma mais-valia para se diferenciar num mercado internacional se bem com reticências e sempre a olhar para a galinha do vizinho como melhor que a nossa.”
Considera que não há políticas do design em Portugal “está tudo por fazer”. Também refere que não podemos pensar que a projeção de pode fazer com iniciativas esporádicas privadas como tem acontecido mais recentemente. “Num país com pequeno poder de compra é essencial mostrar-te lá fora e ir lá para fora tem custos acrescidos. Vão aparecendo algumas oportunidades e eventos, mas não com regularidade e a expressão necessária para criar uma cultura de Design interna como aconteceu na Itália ou nos países nórdico”. Considera que uma projeção internacional do design português até iria ter reflexos positivos no mercado interno, já que este está muito pouco informado quanto aos seus criativos e às suas criações. “A Maior parte do público nacional não dá valor ao “Quem”, “Quando” e “Porquê?” porque não foram ensinados a tal e os que dão muitas vezes não tem capacidade para adquirir esses objetos. Se os designs Italiano e Nórdico são conhecidos é graças à aliança entre a indústria, o estado e os criativos que levou a uma cultura de design próxima da sua população”.
Gosta de trabalhar para a industria, mas implica atitudes completamente diferentes porque para a industria os fatores mercado e das tendências tem que ser observadas com mais atenção. Enquanto criador da André Teoman Studio muda de postura, procura “criar gostos novos, quer haja alguma ligação atual ou se tenha que começar uma ligação emocional do zero sem pressão das necessidades básicas da indústria. Quanto a objetivos futuros confessa que não procura fazer grande projetos porque o seu próprio trajeto nunca foi linear, nem tal como os projetos. Vendo de longe foram sempre os desvios e a sua capacidade de os aproveitar que tornaram possível estar onde está. “Por isso tenho-me focado em manter boas parcerias e aliar-me a projectos que façam sentido dentro daquilo que tenho desenvolvido”.
www.andreteoman.com