O cinema alemão tem dificuldades em cruzar fronteiras. The Golden Glove de Kaith Akin, consegue-o pela perplexidade da questão que levanta: O que acontece quando uma realidade particularmente dolorosa se une ao humor? Será possível retratar a história real de um homem que violou e esquartejou dezenas de mulheres nos anos 70, dentro de um género cómico sem despoletar a ira de uma memória traumática. Aparentemente não, mas o filme de Akin sobrevive nos limites da ética, porque transformou o The Golden Glove, o bar que se tornou o epicentro dos acontecimentos, numa espécie de esgoto. Todas as figuras que por ali gravitam são propositadamente grotescas. São feias, sujas, desdentadas e bêbadas. O riso perde assim a leveza, porque o espectador está sempre a ser confrontado com um certo desconforto, perante a quantidade de cenas caricatas que o filme proporciona.