Uma visão a sul
texto de Maria São Miguel
Não é a primeira vez que abordamos a importância do Internacional Talent Support (ITS), um concurso que acontece em Trieste e é desenhado para dar visibilidade e apoio aos melhores estudantes de design de moda recém-formados. Porque o concurso se refere a finalistas, além das distinções atribuídas aos estudantes, está em jogo o prestígio das escolas em termos globais. Daí que as escolas de design estejam sempre muito envolvidas no concurso. Os professores acompanham as apresentações finais, porque aclamações de vencedores trazem consequentemente um maior leque de alunos inscritos no curso de moda. No ano em que o ITS celebrou efusivamente a entrada de Matthieu Blazy ,um dos seus antigos vencedores, na direção criativa de Bottega Venetta, Trieste voltou a apreciar, na sua 19 edição, 530 propostas que abrangeram 55 nacionalidades provenientes de 80 escolas de 30 países diferentes.
Comparativamente aos anos iniciais do ITS, o que verificámos hoje, é um maior número de escolas que conseguem levar alunos à pequena lista de finalistas que disputa o prémio. Inicialmente eram alunos saídos da Royal Academy of Antwerpen que ganhavam invariavelmente. Depois passámos a assistir a uma vaga de vencedores da Royal College de Londres e agora, aparentemente temos proveniências mais diversificadas. O mundo é outro, e as temáticas e as origens ganham mais relevância, tendo em conta os premiados recentes. Este ano o prémio mais importante foi atribuído em ex-aequo a um espanhol, que provinha da IED, Instituto Europeo di Design em Barcelona e a um marroquino, finalista da Central Saint Martins de Londres, escola que volta à ribalta depois da importância do seu legado.
A proposta do espanhol, Aitor Goicoechea Abruza baseia-se, essencialmente, na construção têxtil e na exploração da sensação da cor. O júri elogiou a sua capacidade de construir texturas que transformam a nossa visão da cor. Refere a grande carga emocional, a originalidade do uso da imagem fotográfica e o facto de procura misturar várias influências numa procura de uma identidade própria. Toda a mestria que coloca na execução do bordado é outro elemento que marca a atribuição do prémio. Já o marroquino Adam Elysasse procurou trazer a sua própria tradição berbere para o universo multi étnico dos subúrbios de Londres, a sua nova realidade. Procurou que a sua coleção respondesse a algo muito básico que não estivesse longe dos atributos e necessidades que os indivíduos reais imputam à roupa. Para isso, importou o contacto que teve com elementos das tribos do seu país que explicaram as suas necessidades práticas, e também transmitiram conhecimento técnico tradicional, que esteve na base do processo de construção das suas peças, orientadas agora, para uma linguagem contemporânea de moda.
É a primeira vez que os premiados provêm da bacia do mediterrâneo, quando tínhamos assistido nos últimos anos a uma vaga de alunos finalistas asiáticos vencedores, provenientes das escolas do norte da Europa. Evidentemente, num mundo que espreita com mais atenção a fusão de culturas e onde a emigração é um tema do dia, é provável que a atenção e os critérios se alterem e haja mais atenção a outro tipo de sensibilidades. Por isso, é também de referir a presença do flamengo de origem marroquina, Mohammed El Marnissi da Royal Academy of Antwerpen, um dos criadores que ganhou um dos prémios secundários.
Texto de Maria São Miguel paraPARQ_72.pdf (parqmag.com)