Suba
No topo do bonito palácio de Sta. Catarina, o Suba segue em tudo, a filosofia do Verride, um designado boutique hotel que veio devolver e dar vida a um dos pontos mais nobres de Lisboa. Amplamente remodelado, o hotel de 5 estrelas oferece luxo de forma desempoeirada. Longe de ideias standard, impessoais e minimais, todo o hotel é um apelo aos sentidos, arriscando numa decoração pessoal, onde combina memórias passadas, viagens, tudo num informalismo simples que não dispensa a qualidade do serviço, nos detalhes. É um pouco isso que encontramos no seu restaurante no último andar. Desde já, a sala rejeita atavios decorativos, porque a vista de quase 360 graus sobre o rio e zona histórica são, de facto, pérolas suficientes para deslumbrar o mais inadvertido. De resto, exibe um mobiliário simples e confortável, pois os elementos humanos, público, serviço e gastronomia se concentram para viver um momento único. A carta proposta pelo Chef Fábio Alves, oferece, no essencial, uma cozinha internacional, sofisticada e desconstruída, ancorada no gosto e nas tradições portuguesas. Quando lemos o cardápio muitos dos clássicos portugueses até aparecem evocados, mas nunca servidos de forma tão óbvia. O desafio está em descobri-los, ora em sabores, ora texturas, que fazem a nossa gastronomia voar mais longe.
Felizmente, no dia de degustação da nova carta da estação, tive um daqueles finais de tarde de verão, em que só se sente uma ligeira brisa e, por isso, pudemos jantar no terraço, com direito a um pôr de sol de cores cálidas que rivalizavam em muito com o rosé da abertura, um Muga, 2018 de Rioja composto por Garnacha e Tempranillo, fresco e de sabores suaves. Acompanhou com Black Angus curado, beterraba macerada, queijo de pasta rija e trufa (€16). No que seria mais relevante, os pequenos nacos de carne que compunham o prato, derretiam-se na boca como manteiga, sem sentir quaisquer fibras. Esta primeira dupla, que provavelmente não seria uma escolha pessoal revelou-se uma surpresa. E é isso que pode ser uma vantagem. Para quem goste de se deixar ir pela aventura dos sentidos, o Suba oferece 3 menus de degustação com opção de wine pairing. O de abertura oferece 5 momentos (€ 50) que tem uma opção de pairing de 5 vinhos (€ 40) . O mais completo conta já com 7 momentos (€ 110) com uma opção de pairing de 7 vinhos (€ 16).
A segunda entrada, Mil folhas de foie gras e pêra bêbada com mousse salgada de vinho do porto e torresmos de aves (€15) , foi um verdadeiro desbloquedor de sentidos. Aquela combinação fez-me ter a certeza que voltaria ao Suba. As camadas ínfimas de foie gras combinadas com as fatias finas da pêra conferiam frescura à cremosidade untosa do conjunto. Tinha a proeza de retirar essa délicatesse própria de uma ceia de natal para uma paisagem tropical em torno de uma piscina. Talvez porque já estávamos em maré de exotismo, porque não combinar com um Gewurztraminer, 2018, Villa Wolf, um vinho produzido com uma casta pouco usual em Portugal, mas de pergaminhos germánicos. A cor dourada, a gota prenunciada e um aroma delicado a rosas imperaram.
A Lula foi a opção de prato principal. É uma Lula recheada em duas confecções , alcachofrada e dashi invertido (€16). É um prato visualmente elaborado. Contudo a sua nota artística relevante não faz sombra à meia cebola recheada de puré de alcachofra, outro momento alto da noite. Talvez o subtil aroma a fumeiro português que encontrei no recheio da lula, fosse o apelo suficiente para um tinto ligeiro, e o wine pairing proposto para este prato foi um bairrada, Vadio, 2015 de Luís Patrão.
Há receitas, onde tudo está feito e, às vezes não há muito que inventar e o melhor é ser fiel as tradições. Foi o caso do Cabrito de leite a dois tempos (€25). Sendo o Chef Fábio Alves um beirão, não podia deixar de ser um prato identitário que dá no essencial espessura ao local e à cozinha que se pratica no Suba e que será depois a âncora de tudo o resto. Um prato que obviamente se desconstrói visualmente, ganha um formato em consonância com alinhamento criativo geral, mas que não está nada longe da receita centenária. Desta vez um vinho com mais corpo foi proposto e nada mais nada menos que um outro clássico da portugalidade, um Callabriga da Casa Ferreirinha.
E porque o apelo às tradições soava mais forte, ao final da noite ainda houve espaço para os doces conventuais que são tanto da tradição portuguesa. Doces das nossas tradições (€9) é composto por vários servidos num único prato. Fácil de partilhar é um bom cartão de visita para quem esteja a ser introduzido no tesouro que é a tradição da doçaria portuguesa.
A noite já ia longa, mas não demasiado, nada que fosse impeditivo de subir por umas escadas do terraço ao nível da claraboia, onde um engenhoso passadiço circular nos permite a tão almejada vista de 360 graus da cidade que poucos locais em Lisboa tem o privilegio de reivindicar. Era pois uma noite de estrelas e certamente sentimo-nos muito mais perto desse privilégio de viver em Lisboa e ter locais como o Suba e o Verride para aperfeiçoar essa experiência.
Suba ,
Hotel Verride, Palácio de Sta Catarina
Rua de Sta Catarina
telf +351 211 573 055
Terça-feira a Sábado das 12h30 às 15h00 e das 19h00 às 22h30
Encerra ao Domingo e segunda-feira