Texto de Carla Carbone
Budonga trata-se de uma exposição que teve lugar nos espaços da ZDB em Outubro. Fernando Brito, o autor dos desenhos, e Pedro Proença, autor das histórias, abordam um tema que tem vindo a assumir uma importância cada vez maior no debate ideológico, sociológico e político do pais. O tema do pós-colonialismo. Fernando Brito tem vindo a expressar, na sua obra, o interesse pelo tema do pós-colonialismo e pelo objeto político. Na consciência que a obra pode ser esse agente político, modificador de mentalidades, e, numa perspetiva mais heideggeriana, que a obra pode justamente modificar o ser.
A obra não é em si um elemento fechado, presentificado somente como objeto para ver, apreciar, deleitar. A sua condição revela-se também enquanto relação do espectador com o ente, enquanto objeto que pode transformá-lo. O espetador que aprecia a obra neste momento, não poderá ser o mesmo que a desconhecia antes do confronto com a sua realidade. É esse impacto, essa estranheza que Brito parece procurar. Por um lado aparenta pretender fazer pensar sobre os preconceitos, sobre o modo de pensar enraizado, revelar um outro olhar social, para além do olhar que sempre se concretizou, sob uma mesma matriz
Enraizadas também se encontram as matrizes estéticas e formalísticas, que continuam a ser estabelecidas como válidas, e evidenciam-se, em detrimento de outras que, por razões culturais permanecem ocultas. Conduzindo a um olhar artístico unicamente inscrito num espetro unidirecional. Por esse motivo os desenhos que Brito apresenta surpreendem, e dão-nos uma experiência de conhecimento, de alteridade
Texto de Carla Carbone para a revista PARQ #69 Março 2021 PARQ_69.pdf (parqmag.com)