A marcar a moda nacional
Por Patrícia César Vicente
Antes de ter e ser toda esta personalidade na moda nacional, como era a Susana com vinte anos? Em que é que acreditava?
Então, Patrícia, como é que é como é que era a Susana aos 20 anos… Acho que a Susana é um bocado como qualquer pessoa, é com este distanciamento tão grande de vida vivida em que, claro que, eu acredito que a idade nos traz sabedoria, nos traz conhecimento e nos traz autoestima e, portanto, tudo isso está mais enraizado hoje do que estaria com certeza na altura, mas eu já era alguém que sabia que queria seguir esta profissão na vida, queria seguir a imagem, queria trabalhar nesta área, portanto, só que tinha começado dois anos antes, e claro que dois anos antes é diferente das décadas que se passaram desde então, e uma coisa é começar a trilhar outro caminho, outra coisa é olhar para trás e ver o caminho que se trilhou. Mas eu acho que no fundo, passa-se isto com qualquer pessoa que tenha uma profissão e siga essa profissão porque sente que vai evoluindo nela. Se calhar diferentes pessoas que ora fazem isto, ora fazem aquilo, ora fazem aquilo outro, talvez. Mas quem faz uma profissão por paixão acredito que tenha sempre esta possibilidade de evolução constante porque é sempre com prazer e com autenticidade. Acho eu.
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Como é que é o seu dia-a-dia como consultora e assumir posição de direção de guarda-roupa?
Então, quando estou a exercer as funções de consultora de guarda-roupa para ficção, normalmente, sou o topo da pirâmide de uma equipe bastante grande com quem eu trabalho quase sempre e que há algumas posições que estão praticamente ao meu lado, há outras que estão um pouco abaixo, e depois há outras que estão mais abaixo ainda, ou seja, como qualquer hierarquia. Portanto, somos todas parte de uma equipa, todas respondem, obviamente, às chefias, tal como eu também tenho de responder a outras chefias que não são de guarda-roupa, mas que são de direção. E, portanto, acaba por ser um pouco diferente quando estou a fazer styling. É um processo mais solitário, enquanto neste caso realmente envolve muita equipa, uma equipa de bastantes pessoas. Acaba por ser criativo, desafiante e interessante, porque é mais dinâmico.
Nada é feito sem ser validado por todas as partes, o que é um exercício diferente de haver só uma a dizer que é assim, até no fundo, se calhar me sinto mais apoiada, apesar da responsabilidade ser tanta quanto estou a fazer editorial. Idealmente é um trabalho muito dinâmico, muito exaustivo, de um horário super cansativo, de dias e dias a trabalhar sempre, porque são muitos personagens e leva muito tempo a conseguir concretizar e a ser validado até as personagens começarem a tomar vida e forma. É mais ou menos isto.
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Há quantos anos é que dá aulas? Qual é o seu principal objetivo com o curso e a quem é que é dirigido?
Bem, eu comecei a escola há 15 anos e comecei sem qualquer pré-determinação. Não pensei em ter uma escola. Aconteceu porque eu sou uma pessoa que sigo os desafios. Eu sinto os desafios e sigo-os. É algo assim.
Comecei por uma casualidade e apesar de nunca ter pensado em ter uma escola, já lá vão 15 anos. Agora, qual é que era a pergunta? Na realidade não criei a escola a pensar que ia criar uma escola e que ia ganhar dinheiro com uma escola e que ia ter imensos alunos. Eu comecei com a escola, a escola começou a correr bem e eis-me 15 anos depois ainda a dar aulas.
Ou seja, a quem é que o curso é dirigido? O curso é dirigido a quem sentir que deve aprender para ter bases sólidas para iniciar esta carreira. Portanto, é dirigido a quem quiser, é dirigido a quem sentir que para trabalhar, poderá adquirir conhecimentos na Pulp Fashion. Portanto, no fundo, é quem escolhe, porque, de uma maneira geral, as pessoas que vêm ter comigo, muitas vêm pela passa palavra de umas e de outras pessoas, o que me faz muito feliz, porque na realidade faço muito pouca publicidade aos cursos, faço uma divulgação geral da minha vida e do meu trabalho, porque obviamente é um trabalho que só faz sentido sendo exibido para o exterior, mas dou as aulas, hoje em dia, a quem quiser aprender comigo. Portanto, o meu público é o público que quer vier ter comigo e que me procura para aprender.
Para quem estiver interessado onde é que pode ter acesso a mais informação sobre os cursos de produção de moda?
Quem quiser entrar em contacto connosco, pode ser através do site, do Facebook, do Instagram, de e-mail, tudo em www.pulpfashion.pt. O e-mail é o geral, pulpfashion.pt, e as redes sociais estão exatamente também nesses dois nomes, quer Instagram, quer Facebook.
As pessoas que estudam moda e terminam os seus cursos sentem-se perdidos e não sabem por onde começar, quais são os seus conselhos?
As pessoas não saberem para onde começar, quando acabam os cursos… Também é uma constante. Não só de um curso de styling, mas de um outro curso qualquer, se me lembrar, por exemplo, medicina, sei lá. Só se tiver aquelas notas, estás a estudar, não sei bem para ir para onde, estão jovens de todas as áreas a migrar, estão à procura de uma vida melhor. É inerente a vivermos num país pobre, pobre culturalmente e pobre de todas as maneiras. E, portanto, se as pessoas se sentem perdidas, não há um grande conselho para dar, quer dizer, o que é que se pode dizer a alguém. Se eu disser a alguém que está perdido que se oriente, e que tenha calma… Parece que não faz sentido dizer isto, capaz de me responderem: “ah, assim não lhe custa dizer isso” … É algo inerente a ser jovem. Ser jovem é também isso, ser jovem é sentir-se perdido, ser jovem é achar que já nada vai acontecer e ver o futuro um bocado negro. É a parte negativa de ser jovem. Portanto, diria às pessoas que sejam mais…. Aceitem melhor o dia-a-dia e esperem por um amanhã. Não queiram logo que aconteça tudo de uma vez, porque nada acontece de uma vez. Se eu estivesse a falar para esta entrevista há 50 anos, se calhar, também era uma jovem com medo. E, portanto, ocupem-se, dediquem-se, não percam o foco.
Se caírem, levantem-se. E pronto. Novamente, acho que é extensível a qualquer profissão, extensível a ser jovem. Acho que esta atualidade tem uma dualidade. tem muita oferta de muito, o que pode ser um risco grande, porque em vez de ajudar a focar, pode ajudar a desfocar. Mas… São os males inerentes, sei lá, se calhar também em parte em relação às redes sociais, que alteraram muito a visão de tudo. O estar perdido é uma constante na vida. Nós nunca temos a certeza de que o amanhã está garantido, portanto, quando se é jovem eu sei que isso tem uma pressão grande.
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Deste lado tenho trabalhado com uma nova geração de stylists e todos eles me dizem que não se conseguem aguentar muito tempo na moda porque praticamente todos os trabalhos de moda não são remunerados ou estão em estágios não remunerados. E quando se vêm obrigados a trabalhar para pagar as suas contas não conseguem disponibilidade para estar presentes e fazerem os seus trabalhos em moda. Temos perdido muitos talentos por esta razão, ou devemos encarar como uma selecção natural?
A atualidade é difícil para quem está a começar uma vida. Vemos isso na televisão todos os dias, de jovens de todas as áreas, não é exclusiva de moda, sendo que a área de moda é uma área que provavelmente será mais difícil de ganhar, reunir as condições para se começar a ganhar dinheiro do que as outras. Também é uma área em que se calhar se estuda seis meses ou até nem sequer se estuda, enquanto nas outras as licenciaturas ou as formações são três ou cinco anos, e aí continuam a ter as mesmas dificuldades. Portanto, A questão da seleção natural, por acaso, é uma questão, é desagradável de dizer e de afirmar, mas se calhar é assim, se calhar é mesmo uma questão de seleção natural, sei lá bem, se calhar os mais fortes sobrevivem e quem não está tão determinado se calhar não sobrevive, mas também se não sobreviver nesta área e se quiser mudar e quiser ser mais feliz noutra, também não é um drama, ou seja, trabalhar em moda não pode ser uma coisa apelativa porque é moderna. No fundo, basta ser uma coisa que tem que vir das entranhas, das vísceras, ou seja, é uma coisa que ou nasce connosco ou quase que não nasce connosco. É um bocado difícil.
Quem nunca sentiu o apelo por esta área, poder-se dedicar a ela lendo uns livros, ou seja, é uma área que, se calhar, a questão de ela fazer essa seleção, ela não o faz por querer, faz-se por causa do que se vive na atualidade, mas se calhar os mais fortes ou os mais talentosos acabam por sobreviver e eu vejo isso em muitos dos meus alunos, e sinto-me muito orgulhosa por saber que não são todos, em área nenhuma, em licenciatura alguma, são todos, mas o mercado de trabalho está cheio de alunos meus e alguns que eu se calhar na altura nem achava que pudessem vir a sobreviver na área e afinal estão. Se calhar, eram mais fortes do que os outros, se calhar eram mais determinados, ou se calhar também tiveram mais sorte, porque também há sempre uma dose de sorte na vida, mas essa escolhe-nos, não somos nós que a escolhemos, apesar de que eu continuo a acreditar que a sorte dá muito trabalho realmente.
Qual é a sua opinião para os stylists que são contratados de acordo com a sua visibilidade nas redes sociais?
Sabemos, Patrícia, que muitos profissionais, presentemente, são contratados através dos seus números de visualizações no Instagram. Não são só stylists, são cantores, são actores. Enfim, toda uma classe de artistas, de pessoas que trabalham com a parte artística, que são desafiados, que são contratados pelos seus números de visualizações. O que é que eu acho? Acho que não é completamente justo, mas também não pode ser completamente injusto, porque a pessoa até pode ser uma boa profissional, como pode não ser? E isso… Também me parece que atualmente não é particularmente de relevo. Principalmente na área de moda em que toda a gente pode quase que parecer que sabe. E principalmente se tiver muitos likes no Instagram, então de certeza há pessoas a se poderão considerar desde logo uma grande, ou um grande stylist. Mas quem sou eu?
As coisas valem o que valem para mim, e para os outros valem o que valem, ou seja, eu provavelmente não contrataria nunca ninguém por essa situação, mas também não posso impedir que os demais o façam com base nisso. Sim, não é justo. Então, na classe de actores, com quem eu trabalho imenso, isso ainda é muito mais visível e muito mais chocante. Eles queixam-se imenso, imenso, imenso e pronto. Quem não, quem nunca é o que é, é a vida, é o que temos hoje em dia, é a actualidade.
O que é que lhe salta logo à vista quando olha para alguém e pensa: esta pessoa tem sentido de estética?
Bom, há vários sentidos de estética. E eu até acho que o gosto se discute. Mas não é por aí que eu quero responder à questão. Há vários sentidos de estética que eu identifico como sendo bons e outros que eu identifico como não sendo nada bons. Portanto, é completamente diferente daquilo que eu considero agradável à vista, Penso que a pessoa que tem o sentido estético é diferente do meu, é o que eu penso, mas eu constato isso com muita frequência. Na realidade, imagem não é uma coisa que seja necessidade básica, nem que as pessoas venham munidas com ela, nem que não é como pão para a boca. Ou seja, há quem tenha, há quem não tenha, há quem queira desenvolver, há quem nem se interessa, nem saiba.
O que é que ainda lhe falta fazer ou cumprir?
O que é que me falta fazer? Esperando que o universo me continue a ter coisas para mostrar-me, a apresentar-me coisas para eu fazer até ao último dia da minha vida. Os projetos surgem e nós não… Eu, pelo menos, nunca estou satisfeita com tudo o que fiz, porque quero sempre mais. Sou ambiciosa, não de dinheiro, mas sou ambiciosa de cumprir com projetos e com o dever e com o bem executado, com algum brio profissional, por assim dizer, e falta-me fazer muita coisa. Uma das que ainda me falta fazer, que eu não sei quantas mais serão, mas uma está prestes a acontecer, que é uma marca de acessórios para animais com o nome da minha cadela, Gaia, que é a minha terceira pug e que me inspirou particularmente porque é um ser muito especial e porque eu continuo a ser perfeitamente permeável e desafiante para qualquer projeto que se me afigure possível, mesmo que seja difícil de conquistar, de prosseguir, de qualquer coisa. O caminho faz-se caminhando.
Um conselho que lhe tenham dado ao longo da sua extensa carreira e que possa partilhar connosco?
Honestamente, não me lembro de nenhum conselho que me tenham dado e que me tenha marcado assim tanto. Eu acho que tenho vindo a construir a minha lista de conselhos ao longo destas várias décadas de trabalho, mesmo que me tivessem dado algum conselho, provavelmente já nem me lembraria, porque as coisas também não têm a mesma validade sempre ao longo dos tempos. Eu continuo a achar que trabalhar com seriedade, dedicação e com paixão é o único conselho que eu posso dar e que posso transmitir. O resto cada um agirá de acordo com o que entender, o que puder e o que estiver ao seu alcance.