A força da comunidade em defesa da sua arte!

Texto de Patrícia César Vicente

É preciso dar palco a quem ainda tem de lutar para ter voz. É bom pensar que este projecto será o início da inclusão contra o fim do preconceito.

Depois de ler a proposta a Queer Art Lab…isto não faz apenas sentido, e se tem algum sentido é o de obrigatório. A parte mais incrível e que demonstra uma total dedicação a todes é que o QAL existe para que um dia deixe de ser necessário a sua existência. É daquelas verdades poéticas que fundamenta a sua criação. O Ary Zara conduz o projecto com o apoio do Nuno Violante e do Marco Mercier do Trumps. Com uma estrutura que abrange várias áreas artísticas e que vai a detalhes e pormenores que fazem toda a diferença. Por vezes, quando alguém está a tentar criar espaço para um nicho, acaba muitas das vezes, por se esquecer ou esquivar a outros nichos. E no fundo, a defesa e inclusão de todes será urgente até não ser preciso criar um espaço onde estão segures. É por isso que ao ler a proposta deste projecto percebemos o quanto é especial. É como se tivessem criado uma sala onde podem voar livremente, e ao mesmo tempo terem o apoio do ninho.

O projecto que era para ter sido lançado em 2020, mas esse ano foi Covidico(covid+fatídico), pelo que surge quase dois anos mais tarde. Tudo tem um momento certo para acontecer e ser vivido, e certamente que este projecto com enorme significado chegará a muites num momento decisivo. O QAL é um projecto com diferentes plataformas artísticas apoiado pela discoteca Trumps que tem como objectivo principal a criação de um lugar para experimentação, criação, mostra de arte e intervenção da comunidade LGBTQIA+. E esta parte podem ler integralmente na sua proposta de apresentação do projecto. Estão em constante desenvolvimento e arrisco-me a dizer que este será o início de um espaço que ainda tem muitas ideias e formas de ver crescer diferentes artistas que na QAL poderão livremente desenvolver o seu trabalho e ter o tão esperado retorno, a liberdade e o sentido de comunidade que faz falta. Na parte de Arte existem espaços onde os artistas podem partilhar o seu trabalho, assim como á uma área de desenvolvimento e transformação que procura diferentes abordagens para apoiar pessoas queer.

A primeira residência artística com a mentoria de Tamara Alves permitem às pessoas LGBTQIA+ apresentarem os seus trabalhos e também tem como intuito ajudar a combater o desemprego. Com o Corpaças procuram inserir corpos trans e não binários no panorama artístico e contar as suas histórias através de sessões de desenho. Desenvolver um processo em que o traço, e o papel têm todo o tipo de corpos. Até à aceitação de corpos não normativos onde a arte é cisgénera, clássica e binária.

Em parceria com a AMPLOS (Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual) foi criado Os Castelos de Arco-Íris. São histórias inclusivas de encantar, que brevemente podemos ter acesso ao livro, no entanto, para já podemos ouvir as histórias contadas por mães, pais de pessoas lgbtqi+, por drag queens, pessoas lgbtqi+, aliadas, e a Tânia Graça é a primeira figura pública que vai contar uma história dia 26 de Março na Ler Devagar.

E é no Palco Variações na discoteca Trumps que também há um espaço para artistas emergentes. Onde a cedência de espaço e apoio de equipa técnica permite a qualquer artista LGBTQIA+ subir ao palco. Nesse palco podemos não só assistir a concertos, como também a mostras de cinema e tertúlias, workshops, conversas…

mural de Tamara Alves no Trumps em Lisboa

E se há pessoa que nos pode falar mais deste projecto, esta pessoa é o Ary Zara.

Parq (P): Ary, como é que surgiu a ideia para este projecto?

Ary Zara (AZ): Eu trabalho no Trumps há 11 anos, são muitas noites, muitas pessoas e diversas conversas. O Trumps desde sempre foi um local frequentado por muites artistas e a própria equipa acaba por ter muitas pessoas ligadas às artes. Eu e o Marco Mercier (sócio gerente do Trumps) somos pessoas talvez demasiado criativas que se alimentam mutuamente, e numa das noites, começou a surgir esta conversa sobre ampliar aquilo que o Trumps tem feito em prol da comunidade. Sem dúvida que é um espaço que por si acolhe pessoas queer e nesse sentido cumpre um propósito face à comunidade mas podia ser muito mais… e nesta linha começámos a pensar o que poderia ser oferecido e dinamizado que tivesse um verdadeiro impacto na comunidade LGBTQI+.

P: Quais são as principais dificuldades para a criação e desenvolvimento deste projecto tão abrangente, ambicioso, mas muito necessário?

AZ: Neste momento a principal dificuldade é a visibilidade, queremos que os eventos dinamizados tenham público para que o propósito seja cumprido. Não queremos apenas que ume artista dê um concerto, queremos garantir que há promotores, imprensa e público a assistir… e isto aplica-se a qualquer evento. Para nós ter sucesso significa que artistas saem do QAL mais fortes, com contactos, com dinheiro e currículo.

A médio prazo será garantir financiamento para criar propostas que possam ampliar o nosso impacto junto da comunidade.

P: Faz parte deste projecto um mercado com música, alimentação, vestuário, entre outras áreas. Quem é que poderá e já agora, de que forma é que podem concorrer/participar nesse mercado?

AZ: Este mercado é dirigido a todas as pessoas que se coloquem debaixo do “guarda-chuva” queer. Aceitamos artistas de palco (música e performance) e teremos bancas disponíveis para artistas lgbtqi+ que tenham criações/peças suas para vender. Muitas vezes existem pessoas aliadas que também contribuem com a sua arte para dar visibilidade à comunidade LGBTQI+, também serão aceites. Não é cobrado nenhum valor pelas bancas, o que nos interessa é o compromisso e dinamismo da parte das pessoas que as queiram utilizar. Existe um formulário na bio do nosso instagram que poderão preencher para se inscreverem.

P: Qual a melhor forma de contribuir para o desenvolvimento do QAL?

AZ: A melhor forma é mesmo aparecerem nos nossos eventos e divulgarem.

P: Onde é que a comunidade LGBTQI+ pode estar a par de novos eventos, projectos ou até mesmo contactar-vos?

AZ: A plataforma em que estamos mais presentes é o instagram @queerartlabnow, temos sempre os eventos anunciados no facebook https://www.facebook.com/queerartlabnow e podem sempre contactar-nos através do email queerartlab@trumps.pt

Texto de Patrícia César Vicente para