texto de Lara Mather @lara_mather

Do aclamado realizador grego Yorgos Lanthimos o filme Poor Things que foi exibido em Portugal no festival Leffest no dia 10 de Novembro de 2023, estreia nos cinemas nacionais dia 25 de Janeiro de 2024.

Baseado no livro de 1992 de Alasdair Gray, o filme retrata Bella Baxter, uma jovem mulher interpretada por Emma Stone que volta a ganhar vida graças a um excêntrico cientista, Dr. Godwin Baxter interpretado por Willem Dafoe.

Uma espécie de conto “Frankenstein feminista” situado no início do século 20, em que vemos Bella, cujo cérebro e corpo não parecem combinar, novamente a descobrir o mundo e todas as suas peculiaridades pela primeira vez. Ela embarca numa aventura com um advogado Duncan Wedderburn, interpretado por Mark Ruffalo, que a ensina sobre os prazeres carnais da vida e tenta a todo o custo impedir que ela se torne tão autónoma e tão independente que ele já não a consiga controlar.

Visitam Paris, Londres e Lisboa onde nos podemos deliciar com Emma Stone a devorar pastéis de nata como se não houvesse amanhã! É também em Lisboa que se cruza com Carminho que nos dá a conhecer o tema “O Quarto” que faz parte da banda sonora do filme.

Estas cidades europeias ganham vida em palcos dentro de estúdios em Budapeste na Hungria com equipas de arte lideradas pelos diretores de produção Shona Heath e James Price.

Encontamos em Poor Things um universo vitoriano mas também moderno, surrealista, como se estivéssemos dentro de um sonho em que se observarmos atentamente vemos peixes esculpidos no teto de quartos, orelhas de cada lado de espelhos, paredes almofadadas com cidades cozidas. Apesar de vermos todas as personagens vestidas usarem figurinos vitorianos de Holly Waddington, no céu também sobrevoam uma espécie de teleféricos parte de um mundo fantástico em que não é apenas Bella que se sente fascinada a experienciá-lo mas também o público.

Usando várias técnicas do cinema antigo, Yorgos experimenta com miniaturas, fundos pintados em 2d, paredes de leds com animações de ondas.

O diretor de fotografia Robbie Ryan já tinha trabalhado no filme The Favourite de Yorgos em que Emma Stone também faz parte e neste filme usam algumas das mesmas técnicas, como por exemplo lentes fish eye de 8mm e 10mm, criando uma noção de profundidade diferente para o espetador e brincando um pouco com as dimensões do que vemos no ecrã. Em ambos os filmes “The Favourite” e “Poor things” é muito óbvia esta escolha e torna-se um elemento bastante característico desta parceria entre Yorgos e Robbie.

Poor Things é filmado em película, com câmaras de 35mm, usam as lentes mais amplas que existem de 4mm, Optex, que criam uma vinheta circular na imagem numa tentativa de mostrar a vastidão deste mundo. Para os vários zooms que vemos no filme usam as lentes Zeiss Master Zoom 16.5-110 mm.

Poor Things tem dado muito que falar no mundo inteiro, ganhou o Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza e recebeu várias nomeações nos Globos de Ouro 2024 onde ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme de Comédia ou Musical e Emma Stone ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia ou Musical pela sua performance.

Para além da atriz já ter dito no passado que Yorgos era o realizador com quem ela tinha mais gostado de trabalhar, a personagem de Bella Baxter é a que ela mais gostou de interpretar até agora na sua carreira. Pôde pôr em prática certos exercícios com a fisicalidade da personagem que nunca tinha aplicado no passado. Emma é também produtora no filme.

É de realçar também as performances de Willem Dafoe, Ramy Youssef e Mark Ruffalo que faz um papel muito diferente daquilo a que estamos habituados, ao tornar-se num vilão, mimado e patético.

A banda sonora criada por Jerskin Fendrix,é um elemento extremamente importante e consistente no filme inteiro. É por vezes desconcertante e parece que estamos a ouvir instrumentos que não foram afinados à priori mas que se enquadram belissimamente na essência e excentricidade do filme.

Yorgos consegue sempre trazer-nos as histórias mais bizarras de uma forma esteticamente apetecível, não muito comercial, com um toque de humor, não tão óbvio, e é por isto que consegue atrair um público muito específico. Gostando ou não dos seus filmes não se pode negar a sua genialidade.

Para os fãs de The Favourite , The Lobster, The Killing of a Sacred Deer e Dogtooth recomenda-se Poor Things.

Texto de Lara Mather