Quando se reúne a tradição com a contemporaneidade quase sempre resulta em inovação e criatividade. E é este o caso da Residência Artística que decorre neste momento em Viana do Alentejo.
A residência é promovida pela editora Vicara, marca de design portuguesa, e pela associação Passa ao Futuro, associação sem fins lucrativos que tem dinamizado projetos com um principal objetivo, preservar o património cultural e imaterial dos artesãos portugueses.
Nesta primeira fase, quatro ilustradores nacionais, Bruno Reis Santos, Mariana A Miserável, Mariana Malhão e José Costa Torres, juntaram-se à família de artistas ceramistas Feliciano Agostinho e desenvolveram peças em cerâmica com base nos objetos em barro, típicos desta região.
Com uma boa dose de humor, que é característica destes ilustradores, recuperaram tipologias de objetos como os tradicionais alguidares, os pratos de parede, os potes antropomórficos, entre outros.
A família, Feliciano e Rosa Maria Agostinho, que se encontra neste momento a colaborar com os ilustradores, abriu a Olaria Mira Agostinho em 2004, e desde então divide tarefas de acordo com a seguinte tradição: “o homem trabalha o barro na roda e a mulher pinta”. Feliciano Agostinho começou a trabalhar a olaria tradicional na oficina do pai aos 13 anos, e tem sido, desde esse momento, a sua atividade de eleição. Em 1982 abriu a sua própria oficina, com 14 empregados, mas hoje desenvolve a atividade apenas com a sua mulher.
A par do trabalho na roda, Feliciano tem concebido também os desenhos que cobrem o barro, e que de seguida a mulher pinta, mas desta vez deu o lugar aos ilustradores para realizarem as ilustrações.
Os primeiros produtos resultantes desta parceria já foram apresentados à comunidade, no espaço Spira, Alvito, no dia 9 de julho, o último dia da residência. Num evento destinado à partilha de experiências e à sensibilização da importância cultural da olaria tradicional para a identidade local.
Mais uma vez estes eventos que aliam a tradição à contemporaneidade, a avaliar pelos resultados agora apresentados, provam que o novo e o antigo não ganham nada em permanecer separados, como aliás defendiam os arquitectos e designers do início do século XX. Desse modo, estas miscigenações culturais afirmam a importância que reside em não haver distinções entre o presente e o passado, e de como estas convergências tornam possível novas abordagens e novos caminhos para o design, assim como uma maior sustentabilidade, quer social quer ambiental, para os artesãos e para as comunidades locais.
Carla Carbone