Texto por Hugo Pinto @hugopintomurtal
Esforcei-me para estar no festival por volta das 17h. Tinha googlado os portugueses Unsafe Space Garden e fiquei curioso.
Têm uma atitude goofy, deveras palerma, usam roupas coloridas, caras pintadas, cartazes em cartão a lembrar a primária. São meia dúzia em palco e fazem a festa como se não houvesse amanhã. Bebem do rock sinfónico séc. XXI, aquela amálgama de fontes que tanto pode ir a King Crimson como Animal Collective. Isto sem esquecer os australianos que por aí andam.
Tudo muito psicadélico portanto. O som é poderoso mas é aquele modo de estar que os distingue. Piadas existencialistas misturadas com nonsense, humor britânico com sotaque nortenho, gritaria infantil com rasganço de bateria, o que há para não gostar?!
A espaços percebe-se que as ideias são melhores que a execução mas who cares?! Aquilo é arty e é fresco, é bem disposto e despretensioso, tem alma. Se fossem de NYC, especificamente de Brooklyn, eram os maiores do mundo e toda a gente gostava deles, assim ficamos só nós a ganhar, os poucos que chegaram cedo para os ver no Palco Lisboa. Se tiverem um concerto deles perto, é a não perder.
Olivia Dean é a senhora que se segue no palco principal por volta das 18h30. Uma jovem afro-americana com uma extensa banda que inclui 3 metais. Faz uma pop americana que bebe da new soul, às vezes um pouco melosa. Reparo que há imensos estrangeiros nas primeiras filas e que o público é bastante jovem. O concerto é decente e honesto mas há demasiado amor sofrido para o meu gosto.
São quase 20h e siga para o palco Lisboa assistir aos English Teacher. Vêm de Leeds e fazem um rock animado, poderoso, com pitadas de shoegaze e umas strokalhadas pelo meio. A certa altura, uma jovem troca o teclado por um daqueles violoncelos sem caixa modernaços e a coisa dá-se. Foi um concerto engraçado.
Perto das 21h começa a festa de indietrónica dos Jungle no Palco Meo. Arrancam com o seu single mais conhecido, “Happy Man” e o público reage imediatamente. Depois continuam na sua pop dançável, muito simpática, sempre a pedir movimento de ancas e pézinho a bater. Apercebo-me que conheço mais faixas deles que o previsto, fixe.
Usam um vídeo de um vocalista e a banda acompanha live, tem piada mas nada que nunca se tivesse visto. Há muito da nova french wave neste som mas é curioso como os New Order me parecem avós desta malta toda. Não é óbvio, mas está lá. Um concerto que fez as delícias de todos a terminar com “Keep Moving” já perto das 22h.
Ronda os 20 anos o lançamento de “Give Up” dos Postal Service e de “Transatlanticism” dos Death Cab For Cutie. Ambas as bandas têm Ben Gibbard como vocalista e ambos os discos foram fundamentais para toda uma geração. Diga-se que o impacto foi maior nos E.U.A. que no resto do mundo, adiante.
No ano passado, os dois projectos entraram numa bem sucedida digressão pela América que agora aterrou no Palco San Miguel do Kalorama. Começaram os Death Cab For Cutie com o seu indie rock tão início do século.
Constatamos que continuam em boa forma embora já com uma certa idade, perdoem-me o eufemismo. Aquela rockalhada Americana funciona sempre bem ao vivo, Americana aqui é mais um género que uma nacionalidade e a fusão bem conseguida desse género com o indie rock foi uma das marcas que os D.C.F.C. deixaram. Gostei mas a espaços achei este som velho.
Ao fim de 45 minutos, Ben Gibbard anuncia uma pausa de 15 minutos para mudar os instrumentos e eis que vêm os Postal Service. O mesmo vocalista mas é tudo diferente. A começar pelo mago dos teclados e produção James Tamborello, ele que é conhecido por Dntel mas que se excedeu como James Figurine em 2006 com o magnífico “Mistake, Mistake, Mistake”.
Noutros teclados, baixo e voz há Jenny Lewis, senhora já a rondar os 50 mas com muita alma e que anda nestas coisas do indie rock americano desde os 90’s. O som é profundamente eletrónico, com muitas tracks a poderem ser do ano passado.
É bonito constatar que “Give Up” resistiu de modo magnífico ao tempo, saudosismos à parte. James Murphy ouviu-o muitas vezes certamente… E soube tirar as ilações certas. Bom concerto e… Ter Tamborello em palco e em forma ajuda de sobremaneira ao sucesso de tudo isto.
Os LCD Soundsystem abrem com um conveniente “The time has come, The time has come, The time has come today!”. A banda, liderada pelo patrão da DFA James Murphy, deu um óptimo concerto. Já não são a sensação indietrónica do primeiro álbum homónimo de 2005 , nem sequer têm o toque de midas de “Sound of Silver” de 2007. Em vez disso, tornaram-se altamente profissionais. Trocaram o risco pela segurança. Desfilam singles orelhudos e canções novas iguais às de sempre. Ninguém assiste a isto parado, quase toda a gente sabe um refrão, é a festa que se esperava.
A única cenografia em palco é uma bola de espelhos enorme. È um statement. Os LCD fazem do palco uma pista de dança porque é lá que eles se sentem em casa. Sempre assim foi. Não é certamente por acaso que Pat Mahoney, o outro membro fundador, se encarrega dos beats sincopados, ele é um exímio baterista.
James Murphy lança “I can change” a cantar “Radio-Activity”, referenciando os Kraftwerk de modo explícito. No meio do público reparo que ninguém topou a dica que eu tanto amei. Outros tempos, outra geração.
O concerto segue animado mas eu já vi isto umas quantas vezes e já nada me parece espontâneo. Até ficava mas os Ezra Collective estão a começar no palco Lisboa.
Vêm de Londres os Ezra e fazem parte da nova cena de jazz inglês. Mas é o Afrobeat que marca este quinteto. Quando chego, ainda antes de começar o concerto, há no palco uma bateria e um teclado vintage. Entra Femi Koleoso, o baterista líder dos Ezra que também toca com os Gorillaz.
Femi apresenta um trompetista e um sax alto, vem o baixista dançarino e o teclista e começa o baile. Aqui dança-se!
Não são os ritmos sincopados de uma drum machine, nem os metais copiados num keyboard. É uma banda de gente adulta que faz ritmos africanos filtrados pela tal cena de jazz londrina, tudo remisturado na cabine de dj de um club.
Os Ezra deram um concertão mesmo bom. Só de lamentar a hora tardia porque o cansaço de 8 horas disto já batia. Foi uma bela noite de música. Até amanhã.