Texto por Maria São Miguel

Edição 65,

Solidários com a luta que as mulheres travam todos os dias para criarem um ambiente mais igualitário inspirámo-nos no GULABI GANG (gang rosa), um movimento de mulheres indianas que recentemente teve destaque nos media, por se terem revoltado contra o machismo no seu país, manifestando-se com roupas coloridas e bastões em punho. Revoltaram-se contra os poderes instituídos de um país que se tem mostrado indiferente ao número de casos de mulheres indianas vítimas de violação. Chamámos três mulheres portuguesas que personificam essa vontade de mudança que se faz no quotidiano de cada uma. Com percursos díspares, ISABEL SILVA, RAQUEL SAMPAIO e VANESSA MARTINS, têm em comum, uma grande visibilidade na esfera pública. Estão conscientes do peso da sua mensagem para a construção de uma sociedade mais igualitária, que é implantada no seu exemplo diário. Juntamos à mensagem das nossas GUERRILLA GIRLS os valores na NEW BALENCE, marca que saiu do universo do desporto para o lifestyle e que desde sempre teve uma política interna de tolerância e de inclusão.

A NEW BALANCE trouxe para a atualidade um clássico dos anos 90, que se tornou um dos velhos old school nos EUA, país onde a marca teve a sua maior projeção mundial. Os 850 apareceram pela primeira vez em 96 e destacavam-se, na época, pela sua silhueta minimalista, colocando-se à frente do seu tempo. Era um modelo que combinava a tradicional camurça com partes sintéticas e uma malha respirável aliados à introdução da tecnologia ABZORB na sola, tornando-se um sinónimo de conforto ao caminhar. Os 850 não trazem o famoso “N” das laterais para dar espaço às formas onduladas e coloridas que os caracterizam. As combinações de cores possíveis são muitas, grande parte delas remete para as originais, para uma época que deu preferência a cores ácidas e florescentes.

MSM: Sentes-te uma guerreira? Em que momentos?

R.S: Sinto-me guerreira quando luto pelo que quero alcançar e provo a quem duvidou de mim que estavam errados.

V.M: Sinto me uma guerreira quando consigo cumprir com os meus objetivos, e não tem que ser necessariamente grandes feitos. O objetivo de conseguir realizar tarefas ou gerir a minha agenda de forma a que consiga fazer tudo, isso já me faz sentir guerreira. Atualmente as mulheres estão a conseguir cargos melhores em empresas, mas continuam sempre a ter a desigualdade de um pós laboral sobre elas, filhos, casa e tantas outras responsabilidades… e há imensas guerreiras por ai.

I.S: Sinto-me. E ser guerreira para mim significa ser persistente naquilo que eu acredito e sinto. Neste ponto eu nunca desisto… acredito que a nossa intuição nunca nos apanha na curva. Também vacilo e fico indecisa, mas estas são as alturas que me escuto e reflito mais. Mesmo quando avanço, às vezes é com medo. Mas não faz mal, desde que esteja alinhada com a minha intuição. A vida pede-nos todos os dias para sermos guerreiros. E ainda bem. A vida é feita de desafios.

MSM: A luta pela igualdade entre os géneros ainda faz sentido?

R.S: Fará sentido enquanto não houver igualdade. Por isso, sim. Infelizmente, ainda faz todo o sentido.

V.M: Fará sempre. Não tem de haver diferenças pelo género. Somos todos seres humanos e temos de ser visto como tal. Não tenho de me sentir diferente pela negativa por ser mulher. Acredito que no futuro haverá pessoas importantes em cargos decisivos sejam eles homens ou mulheres. Mas a mudança parte das próprias mulheres que não sabem o que é o feminismo e nem sequer têm curiosidade em saber. Encaram a luta pela igualdade como uma perca de tempo. E isso está errado, e por essa razão é que a mudança demora mais

I.S: Continua a fazer sentido hoje, como sempre fez. No tempo das minhas avós as coisas eram muito diferentes do que são hoje, e as lutas que elas travaram para se tornarem mulheres independentes não eram as mesmas de hoje. Mas, na verdade, em algumas coisas, também eram. No mundo do trabalho, por exemplo, era impensável encontrar uma mulher a conduzir um autocarro ou a ser diretora de uma grande empresa. Hoje, as coisas mudaram. Já provamos o nosso valor. E acho que está à vista. A igualdade entre os géneros faz sentido, sim. Para um lado… e para o outro também.

MSM: Qual a pior coisa que te disseram por seres mulher?

R.S: Coisas do género, —”Vais estudar engenharia? Mas isso é curso de rapazes!”

V.M: Que estava onde estava porque era bonita e sensual, e que isso obviamente me trazia oportunidades. Como se a minha capacidade de trabalho fosse medida pelo padrão de beleza da sociedade. Ou então perguntarem-me se o meu carro foi oferecido pelo meu marido ou se é dele. Eu sou uma mulher que adora carros topo de gama. E tenho todas as capacidades tal como um homem para ter um, pelo meu trabalho ou porque qualquer pessoa pode pedir um empréstimo ao banco. E esse tipo de padrões continua a existir e não muda.

I.S: Nada. Honestamente. Pelo menos que me lembre. A única coisa que posso dizer é que, por exemplo, quando estou a correr as minhas provas de 42.195m ou mesmo as Meias Maratonas, ouço muitas vezes: “lá vai ela, corre mais e melhor do que muitos… e muitas”. Sempre senti respeito e admiração. Também porque me dou a isso.