Entrevista por Jéssica Lima

De volta e meia a PARQ encontra artistas e apaixona-se pelas obras dos mesmos. A artista de hoje é a Catarina Glam, conhecida por elaborar murais em galerias a céu aberto, e projetos como Crack Kids: “Os vícios da capital”.

Catarina Glam estudou design gráfico e licenciou-se na mesma área na Faculdade de Belas Artes em Lisboa, com várias formações em diversas áreas artísticas, Catarina têm o gosto de explorar técnicas e materiais.

JL: Iniciou-se na arte através dos graffiti em 2000, como surgiu esta paixão?

CG: Na época de 2000 ainda era mesmo só graffiti, só muitos anos mais tarde evoluiu para arte urbana. O meu fascínio surgiu na altura em que andava na escola e comecei a aperceber-me das pinturas que eram feitos pelas ruas e a relação entre estilos e respetivos autores. Entretanto tive a oportunidade de conviver com muitos artistas e o interesse foi aumentando ao começar a pintar com as minhas amigas. Hoje em dia, no que toca a pintura, dedico-me a elaborar murais mais pensados dentro da minha estética atual e do enquadramento local.

JL: Realizou alguma formação na área das artes?

CG: Eu estudei design gráfico na Escola Secundária António Arroio e licenciei-me na mesma área na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Paralelamente a isso sempre fiz formações em diversas áreas artísticas e pretendo continuar a fazer, porque gosto muito de aprender técnicas e explorar potencialidades de materiais.

JL: A Catarina realiza projetos onde junta as mais variadas matérias-primas, como descreve o seu processo criativo?

CG: O meu processo criativo tem sempre como ponto de partida um esboço manual e depois o desenho e planeamento digital, independentemente do suporte, mas sempre baseado no meu estilo artístico e muitas vezes a partir de sólidos geométricos. Depois disso inicio toda a produção e aí já depende do tipo de projeto que vou realizar: se for uma pintura mural, uma escultura de galeria ou uma de grande escala têm uma preparação, materiais e execução completamente distintos.

JL: De momento a sua exposição “Os vícios da capital” encontra-se no espaço da Crack Kids, no Cais do Sodré. Este projeto é uma representação dos 7 pecados capitais, como surgiu a ideia que hoje marca presença em galerias “fechadas” e a céu aberto?

CG: Eu sou uma artista visual que me dedico principalmente à arte urbana, tanto em pintura como escultura. No entanto a presença em galerias permite-me desenvolver outro tipo de peças e chegar a outros públicos.

“Os Vícios da Capital” é uma exposição individual do meu trabalho, que assenta muito no design de personagens normalmente animais, figura humana e criaturas mais imaginárias. Neste caso eu explorei novos detalhes e técnicas, assim como criaturas um pouco mais abstratas do que as que costumo criar, porque uma exposição é sempre um trabalho mais introspetivo, mas ainda assim é uma extensão do percurso que tenho desenvolvido nesse sentido.

A ideia de associar demónios a cada um dos 7 pecados é uma lenda, na qual eu me inspirei para criar o mote desta exposição, por considerar que poderia ser muito interessante a nível visual. Paralelamente, numa abordagem irónica, eu conjuguei os vícios capitais com personalidades frequentemente vistas no panorama do HipHop, reflexo do meu próprio universo e do espaço da Crack Kids Lisboa, dedicado à cultura urbana.

JL: As suas obras são marcadas por traços precisos e vértices vincados, qual foi a inspiração para as suas personagens geométricas?

CG: No geral as minhas personagens geométricas derivam do meu percurso pelo universo da escultura em papel e cartão, técnica que eu explorava muito antes de começar a trabalhar com madeira. A minha estética no fundo é uma consequência das limitações técnicas da escolha deste tipo de materiais em plano, assim como do meu gosto por geometria e carpintaria, mas considero que se tornou característica do meu trabalho e isso dá-me motivação para continuar a explorar esse estilo nesta fase.

JL: Qual é a plataforma, ou suporte que gosta mais de trabalhar?

CG: Atualmente, eu desenvolvo principalmente escultura em madeira, utilizando técnicas um pouco distintas entre as minhas peças de galeria (pequena escala) e instalações (grande escala). Como é um suporte versátil e com muito potencial técnico e criativo, eu sinto que ainda tenho muito por onde aprender e evoluir, tornando-se por isso uma experimentação estimulante para mim enquanto artista.

JL: Quais são os planos para um futuro próximo?

CG: No futuro próximo eu planeio explorar e introduzir novos materiais e revestimentos nas minhas esculturas de pequena e grande escala. Gostava também de ter a oportunidade de fazer chegar o meu trabalho a um maior número de pessoas e internacionalizar mais a minha carreira.

Catarina Glam encontra-se com a exposição “OS Vícios da Capital” por mais alguns dias, no espaço da Crack Kids, no cais do Sodré. Visite!