Edição 59- Outubro 2018
Texto por Carla Carbone
CARLOS MENSIL é um artista plástico residente no Porto que tem vindo a evidenciar-se, de forma séria, no panorama artístico português. As suas peças revestem-se de um carácter assente no mínimo ruído possível, no entanto, deixam um “barulho” interior, logo após o encontro com as suas obras, que não cessa, e que teima em introduzir-nos num caminho intenso e sem retorno, de reflexão e problematização da arte.
O primeiro contacto com a obra de MENSIL, na última exposição que realizou, na Galeria Diferença, no Porto —exposição esta individual— fez-se por meio de uma sala introdutória que ostentava, ao centro, um cubo assente num plinto. A peça escultórica apresentava uma forma cúbica que sugeria, erroneamente, a ilusão de um cubo, ou de uma forma geométrica primária, em vidro, que, entretanto, se havia quebrado. O mesmo plinto parecia evocar também, de modo nostálgico, um monumento, ou ode, ao pensamento reducionista e geométrico abstracto que teve lugar nos Estados Unidos, na década de 60.
Alude a um fazer assente nos princípios da linha recta, do quadrado, do cubo, este realizado com o mínimo de acidente, gestualidade ou expressionismo. De facto a estrutura feita em tiras de metal conduz-nos a uma sugestão de incidente, sem ter sido um incidente, ou seja, conduz-nos a um incidente ou acaso controlado propositadamente pelo artista. Opondo assim dois princípios fundamentais, o de casualidade e o de controlo ou eliminação dessa espontaneidade.
A obra de MENSIL ilustra bem o tema da grelha moderna de que tanto ROSALIND KRAUSS falava. MENSIL insiste, por isso, em alguns dos pressupostos que compõem esse modelo essencialista, como a ideia reducionista total. Ainda útil num período em que, os neo-expressionismos, não cessam de impor as suas formas e travam a ref lexão profunda da arte. No trabalho do não há lugar ao antropomorfismo que se manifesta em muita da arte e escultura contemporânea. Todos os passos dados são ponderados e avaliados.
Existe por isso, um cuidado perceptivo em que o artista compreende o impacto de uma intervenção particular num determinado lugar. E é aqui que entram os domínios e propriedades de cada media, continuando o artista a testar, assim, os limites convencionais da arte.
Por um lado recorda o primado da arte “não objectiva”, traduzindo à letra do termo “non-objective art”, termo empregue por BRECHT, nos anos 30, para definir uma arte omissa na representação dos objectos reconhecíveis, por outro lado, liga-se a eles por meio de “acidentes” que confere, à obra, pequenas impressões dessa fronteira sensível entre a arte essencialista, mecânica/industrialista, e a arte expressionista: os desenhos impressos sobre a parede branca, numa segunda divisão da galeria, partem de uma máquina, oculta na parede, e que descreve, impressionantemente, traços que se aproximam da hesitação da mão humana.
Provocados por um íman em esfera, os traços não são exactos e despertam a perplexidade do visitante que os atribui logo a esse gesto humano, impreciso.