Nasceu na Califórnia nos anos 50, conquistou centenas de adeptos nos EUA e em poucos anos a cultura do skate já tinha alcançado outros pontos do globo. Berlim, Londres e Copenhaga foram emergindo como novos focos da prática, mas no início dos anos 2000 Barcelona ganhou particular destaque e relevância, sendo conhecida até hoje como a “Meca do skate”.

Foto de Jordi Domènech Navalón

Na sequência de um período pós-franquista, das Olimpíadas de 1992 e do próprio Fórum das Culturas em 2004, em que urbanistas e arquitetos como Oriol Bohigas redimensionaram a arquitetura e o desenho urbanístico barceloneses, a metrópole adequou-se perfeitamente à prática do streetstyle. Especialmente as chamadas “praças duras”- espaços sem vegetação e de piso plano onde predomina a estética vanguardista e os bancos, as escadas e as rampas são peças recorrentes.

A cidade mediterrânea possui uma arquitetura convidativa à prática do skateboarding, tem sol – uma condição quase sine qua non à prática deste desporto – durante todo o ano e é uma cidade historicamente aberta a movimentos de contracultura. Não será difícil de entender o porquê de se ter tornado num centro de skate mundialmente conhecido.

Impulsionados ainda pelo aumento das multas em São Francisco e pela saturação de alguns espaços em Londres, dezenas de skaters profissionais internacionais deslocam-se para o bairro do Raval (localizado no centro histórico de Barcelona) para viver e gravar vídeos promocionais das suas acrobacias para marcas internacionais.

foto de Jordi Domènech Navalón

A divulgação mundial desses vídeos publicitários, bem como o boca-a-boca entre os grandes profissionais fizeram disparar ainda mais a afluência de skaters pelas ruas de Barcelona. E espanhóis, alemães, dinamarqueses, norte-americanos… passaram a viajar para a capital catalã apenas para “skatar” nos Països Catalans, na Universitat e na Plaça dels Àngels.

A Plaça dels Àngels é a “Meca das Mecas”, fica mesmo à frente do MCBA – Museu de Arte Contemporânea de Barcelona – e classifica-se como um autêntico caldeirão de cultura. Moradores antigos, artistas urbanos, turistas… todo o tipo de cidadãos habita e circula por esta praça. Destacando-se, no entanto, a grande abundância de skaters, que se fazem ouvir ao virar das esquinas mais próximas.

O piso liso, o sol, a segurança e a comida acessível atraem desde skaters profissionais a jovens aprendizes, de velhos a novos, homens e mulheres, locais e estrangeiros a esta praça, priorizando-a ante outros pontos como o Marbella Skatepark ou o Parc del Fòrum.

Todavia, a cultura do skate não se encerra nos skateparks e nos espaços urbanos não construídos para o efeito mas usados como tal. Skateparks, praças, ciclovias… Esta cultura estende-se às lojas de venda de materiais, a lojas de roupa, a cafés e bares temáticos. O mundo do skate barcelonês extrapola a prática em si mesma e orbita outros polos. Como o Hostel Sant Jordi junto à Sagrada Família ou o bar-café Nevermind Raval, em que existe, inclusive, uma pista de skate dentro do próprio estabelecimento.

Por explicar permanece a paradoxal relação entre os praticantes de skate e a as autoridades catalãs. Sendo a prática deste desporto considerada proibida em qualquer local que não as áreas destinadas ao efeito, com coimas que podem ultrapassar os 1000€, facto é que a aplicação de coimas não é frequente. A relação entre skaters e polícias é, de resto, bastante tranquila. A prática é considerada proibida, mas é paradoxalmente usada como forma de promoção da capital, através de competições e festivais que são realizados ao longo do ano, de vídeos promocionais da cidade… desenhou-se uma complexa relação simbiótica entre o Estado e os skaters que, apesar de contraditória, tem resultado para ambas as partes.

Várias vezes definida como um deporto, outras tantas encarada como uma prática artística direcionada a jovens, frequentemente associada a um estilo de vida ocioso ou de transgressão das ordens social, a verdade é que a cultura do skateboarding em Barcelona se qualifica como uma prática saudável e multicultural.

Trata-se de uma cultura que passa pela expressão através do vestuário, pela música e por uma atitude, mas sobretudo por uma ocupação ativa e criativa do espaço público. Contribuindo, em última instância, para a imagem de uma Barcelona pintada de diversidade, urbanismo sustentável e aberta às mais variadas formas de expressão.

Cinco sugestões de spots para andar de skate na capital catalã:

– Marbella Skatepark: perfeito para quem gosta de um skatepark de frente para o mar;

– Plaça dels Països Catalans: um dos centros mais míticos e old school da cidade;

– Plaça dels Àngels: o mais frequentado e famoso dos espaços, um ex-líbris no centro histórico da cidade;

– Nevermind Bar: um bar noturno com uma pista de skate interior – indicado para uma experiência mais alternativa e descontraída;

– Skate Agora: um skatepark com quase 5000m² de dimensão, onde também se pode assistir a algumas das maiores competições europeias de skate;

texto por Diogo Graça

fotos de Jordi Domènech Navalón