Girl Gone Wild

Francisco Pereira

Queremos saber um pouco mais sobre ti. Como surge a moda na tua vida? Foi sempre uma evidência?

A moda nem sempre esteve presente na minha vida, o interesse foi surgindo no secundário, na fase da adolescência em que começava a querer construir uma imagem própria, e o que isso iria transparecer nos outros. Mais tarde comecei a ver desfiles de moda na internet, e isso levou com que aliado ao meu gosto pelo desenho, começasse a desenhar peças de roupa em corpos que ia esboçando no papel. Muitas vezes acabavam por ser réplicas de peças que via em desfiles, ou em montras de lojas.

Sabemos que estudaste na Artes Visuais no secundário e licenciaste-te em Design de Moda e Têxtil no Instituto Politécnico de Castelo Branco (ESART). Conta-nos sobre a tua experiência e sobre esse percurso. O que te acrescentou?

O meu percurso em Artes Visuais foi muito livre, no sentido em que pude experimentar diversas áreas, e talvez por isso tenha também tido a oportunidade de pensar que a moda seria um possível caminho a seguir. Quando fui estudar Design de Moda, a minha ideia do que seria estava totalmente errada, mas logo percebi que iria envolver imenso trabalho, então comecei logo a organizar-me e a trabalhar imenso. O curso é muito completo, e deu-me imensas oportunidades para experimentar diversas áreas desta indústria, o que é muito bom visto que não temos de ser necessariamente só designers, existem imensas outras profissões onde podemos trabalhar com moda. Ao longo da minha licenciatura nunca soube bem aquilo que realmente iria querer fazer, tentei sempre aplicar-me ao máximo e retirar a maior aprendizagem de tudo o que fazia. No entanto, no último ano, as áreas do design, modelagem e confeção, roubaram-me o coração. O processo de desenvolver ideias em papel e materializá-las tornaram-se uma diversão para mim. As interrogações que coloco cada vez que olho para um projeto de uma peça, e se ela realmente irá resultar quando a acabar, tornaram-se um desafio para mim. E eu gosto disso.

Como surge a ideia de participar no concurso “Sangue Novo” da ModaLisboa?

A ideia de participar no Sangue Novo surgiu um pouco como desafio, um amigo meu incentivou-me a participar também. Tinha acabado a minha licenciatura, e estava na altura de começar a envolver-me em projetos novos. Nunca esperava ter sido logo selecionado, mas correu bem, e fiquei feliz por isso.

“Girl Gone Wide”, a tua coleção SS2020 apresenta fusão de padrões, cores e tecidos. Fala-nos sobre estas peças. 

Quando estou a criar fico muito efusivo com a escolha de padrões e cores, e mais que isso com as desconstruções que posso fazer nas peças, e no gozo que isso vai-me dar ao projetar as peças, divirto-me muito, e acho que só assim faz sentido. Sendo assim, quando comecei a minha pesquisa para o conceito, encontrei umas imagens fantásticas de Ibiza nos anos 80, e fiquei maravilhado. Era um lugar com imensa energia, referências, e também um lugar de abstração do mundo real e de libertação. Então comecei a pesquisar diversas referências dos anos 80 e a fundi-las com esse ambiente que queria transmitir. A cores dos espaços noturnos, e todo o envolvimento dos comportamentos mais extremos que ali se viviam, e quis contrastá-los com a rigidez de uma rotina de trabalho, da qual as pessoas procuravam despir-se no tempo em que estavam da ilha. Era essa desconstrução dos preconceitos e comportamentos que queria assinalar.

Que mensagem pretendes transmitir com esta criação? Qual a importância dessa mensagem para os outros e para ti próprio?

A mensagem que procurei passar, vai muito além das roupas, e é algo também um pouco pessoal. Está ligado com o facto de nós seres humanos necessitarmos de nos abstrair por vezes dos ambientes em que estamos inseridos, e do quão preciso é o tempo em que nos dedicamos a nós, e à nossa expressão enquanto seres singulares, e não parte de uma massa.

Quais são as tuas referências?

Eu não me prendo muito a referências que levo para todo o sempre, eu tento sempre que a minha opinião e gostos, se possam ir alterando ao longo do tempo.  Gosto de pesquisar e estar atento, também para permitir que novas referências entrem no meu mundo. Atualmente sigo muito Sacai, Vetements, Balenciaga, Marine Serre, Charles Jeffrey, entre outras de gosto muito também.

O que vem a seguir? Quais são os teus objetivos no mundo da moda?

Neste momento estou a fazer o meu mestrado, e depois deste passo no Sangue Novo, a minha vontade está presa em ir para o estrangeiro, ver coisas novas, aprender e moldar-me a outras realidades, agrada-me essa ideia de trespassar a fronteira, quero esse desafio.